Combate à desinformação na Amazônia no X FOSPA

O coletivo Intervozes apresentou no sábado (30) seu relatório parcial de pesquisa sobre o ecossistema de desinformação na Amazônia e difusão de discursos de ódio.
Viviane Tavares, articuladora do Coletivo Intervozes e coordenadora do grupo de trabalho (GT) sobre o combate à desinformação da Amazônia, apresentou um relatório parcial do projeto durante o 10º Fórum Social Pan-Amazônico (X FOSPA), neste sábado (30). Ao lado da pesquisadora responsável pela sessão do GT em Minas Gerais, Raquel Santos, debateram o problema da difusão de informações falsas ou manipuladas por veículos de comunicação da Amazônia, sobretudo durante o período eleitoral – mas, sobretudo, as soluções para ele.
O GT tem desenvolvido suas pesquisas em parceria com outras dez organizações brasileiras, oito delas na Amazônia Legal, como o Instituto Mapimguari, do Tocantins, o Coletivo Jovem Tapajônico e a Casa Ninja Amazônia. A mesa de debate teve como objetivo trocar experiências e resultados com o público do X FOSPA, a fim de obter sugestões para a continuação do projeto.
A coordenadora ressaltou que a parceria com outros coletivos de Roraima, Amazonas, Acre, Mato Grosso, Amapá e Pará se deu em razão da dimensão diversa e complexa da Amazônia. A representatividade na equipe de pesquisa, formada por povos indígenas, ribeirinhos, universitários, jornalistas, cientistas e juventudes, foi central para os processos de trabalho, que se desenrolaram por meio de encontros virtuais de março a junho de 2022.
O tema central desses encontros foi a definição do conceito de desinformação na Amazônia na perspectiva dos diversos participantes. A partir disso, analisaram páginas e perfis de redes sociais que (re)produzem notícias falsas ou manipuladas e circulam na região amazônica.
Os difusores de desinformação
Os primeiros resultados da pesquisa apontaram que há um ecossistema de produtores de conteúdo, páginas e perfis na internet que viabilizam percursos desinformantes. Isto é, propagam narrativas com evidências de manipulação e textos sensacionalistas. O difusor da desinformação foi, então, considerado o objeto-sujeito central na pesquisa.
“Na maioria das páginas catalogadas, o discurso de ódio se dava em relação aos povos indígenas, quilombolas, a presença das ONGS, e às políticas de proteção socioambiental”, apontou Viviane Tavares.
A coordenadora do projeto também ressaltou que, em algumas páginas, não havia necessariamente informações falsas, mas uma manipulação de conteúdo a fim de “caçar clicks”. Além disso, há um movimento simultâneo de circulação das mesmas matérias com chamadas diferentes, em múltiplas plataformas.
O GT de combate à desinformação na Amazônia alcançou 70 difusores (páginas): 27 no Pará, 18 no Amapá, 10 no estado do Amazonas, 9 no Mato Grosso, 4 em Roraima, 1 no Tocantins e 1 no Acre. Desse recorte, 46 páginas estão no Facebook, 42 no Instagram e 26 no Twitter. Este ecossistema midiático desinformador está ligado a movimentos de extrema-direita, canais de empresas de produção de conteúdo que misturam opinião com notícias e a figuras públicas em exercício parlamentar.
A necessidade de uma educação midiática
Foram identificadas algumas páginas difusoras de conteúdos duvidosos com grande alcance na região da Amazônia. Entre elas, destaca-se a “Terra Brasil Notícias”, criada em 2020, que apesar de ser do estado do Rio Grande do Norte, é bastante replicada na Amazônia. O “Portal Novo Norte”, criado em 2017, também ganhou espaço na região.
O público presente no evento reforçou que os recursos sensacionalistas destas páginas vêm se sofisticando, o que dificulta identificar onde começa e onde termina a desinformação. Diante de um movimento de retroalimentação de notícias que, de forma implícita e explícita, orientam discursos de ódio e violação de direitos, há uma crescente necessidade de educação midiática.
Discutir sobre a qualidade da informação e saber identificar a desinformação foi o foco da oficina ministrada pelo Coletivo Intervozes na tarde do sábado (30).
Cris Cirino, do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal do Pará (UFPA), lembrou que a desinformação é construída a partir de fundamentos emocionais. Deste modo, os discursos midiáticos, sobretudo durante a pandemia de COVID-19, tiveram muitas vezes origens pessoais, com matérias que traziam exemplos de curas caseiras e familiares. Isso desinformou grande parte da população, reduzindo a busca por tratamentos com comprovação científica e o a vacinação.
As coordenadoras do GT concluíram que “não existe mais a preocupação em comunicar com qualidade”. Por isso, se faz urgente intervir perante páginas desinformantes, sobretudo expondo e pressionando as empresas que as financiam com publicidades. Na próxima semana, o coletivo lançará a campanha #AmazoniaLivredeFake, e convida a todos a acessar o site de mesmo nome e compartilhar os informativos para uma pressão maior e coletiva contra a desinformação e a propagação do discurso de ódio na Amazônia.