‘Não cairemos sem lutar’, dizem indígenas em última plenária dos Diálogos Amazônicos

Indígenas em plenária em Belém
Indígenas em plenária em Belém, neste domingo (6). Foto: Governo Federal

Programação finalizou no domingo, 5, com assembleia dos povos indígenas em tom crítico a organização do evento

A última plenária dos Diálogos Amazônicos reuniu cerca de 1,2 mil pessoas no auditório principal do Hangar Centro de Convenções, em Belém, no domingo (6). A dinâmica da plenária “Os povos indígenas das Amazônias: um novo projeto inclusivo para a região” começou com uma dança tradicional do povo Tembé, que indicou o tom dos participantes da assembleia.

O evento reuniu lideranças e autoridades dos países da Panamazônia, como a ministra dos Povos Indígenas da Venezuela, Clara Vidale, e a ministra dos Povos Indígenas do Brasil, Sonia Guajajara (PSOL).

A plenária abriu uma oportunidade oficial para que as comunidades debatessem suas demandas, além de incentivar o fortalecimento das redes de interação e cooperação.

O cacique Raoni, o primeiro a falar, destacou as mazelas às quais os povos indígenas e o meio ambiente vêm sendo submetidas. Ele agradeceu a oportunidade e classificou a iniciativa do Governo Federal como inédita.

“Não podemos deixar nossas culturas serem apagadas, nossos costumes são nossa identidade e é deles que herdamos nossa sabedoria. É importante que a juventude indígena esteja sempre atenta, mas também que nunca deixe de lado suas raízes”, disse o cacique.

Indígenas lotaram a plenária no Hangar Centro de Convenções. (Foto: Governo Federal)

Outras lideranças indígenas internacionais foram ouvidas. Aulaguea Kali’na, vice-presidente da Federação das Comunidades Autóctones da Guiana Francesa, questionou a organização do evento, pois, segundo Aulaguea, a Guiana não tinha sido convidada para participar dos Diálogos, mesmo sendo um território amazônico. “Como vocês querem falar sobre Amazônia, comunidades indígenas, e excluírem a Guiana?”, protestou.

Kali’na pontou que o aumento das rotas do narcotráfico afeta, principalmente, as mulheres indígenas. Segundo o ativista, a maioria dos problemas de poluição e exploração da floresta derivam dos grandes projetos de exploração, por isso é necessário pensar maneiras mais sustentáveis de governança.

O guianense ainda reiterou o papel dos povos indígenas nessa situação: “Estaremos de pé até o fim e, se cairmos, não cairemos sem lutar”, finalizou o líder.

Patrícia Cajorrane, do Suriname, pediu respeito aos territórios das comunidades indígenas e relembrou que não há limites para um povo unido. Na mesma linha, Clara Vidal, ministra da Venezuela, chamou a Amazônia de “um conceito ancestral que une todos os povos indígenas”, que são os únicos que possuem as ferramentas necessárias para cuidar das florestas, e que essa é uma missão eterna.

Do lado brasileiro, Toya Maxinelli, coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, leu uma carta sobre a importância da autonomia dos povos indígenas e do direito a autodeterminação que vem sendo longamente desrespeitado durante toda a história do Brasil.

Maxinelli lembrou da situação recente da votação do Marco Temporal na Câmara dos Deputados, e ainda pontuou sobre as mortes dos indígenas Yanomami no começo deste ano.

Ministra Sonia Guajajara (ao Centro) junto a representantes do povo Tembé. (Foto: Ana Victória Gouvêa)

Protagonismo

Sonia Guajajara, uma das mais esperadas da noite, lembrou que hoje existem apenas 523 de povos indígenas, resultado do processo de colonização do Brasil. A ministra ainda reiterou a importância do protagonismo das comunidades em todos os processos que envolvem questões de exploração, desenvolvimento e políticas ambientais na Amazônica.

“A multiplicidade das culturas indígenas vem sido desconsiderada por diversas políticas públicas, mas estamos aqui para mudar isso”, destacou.

“Nós queremos que as nossas propostas que aqui foram discutidas estejam integralmente no documento que será apresentado à Cúpula dos Presidentes. Nós não podemos pensar somente propostas, nós temos que pensar soluções”, concluiu a Ministra.

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