Cacique Raoni acusa cineasta belga de abuso de imagem e desvio de dinheiro

Líder Kayapó diz que Jean-Pierre Dutilleux se apropriou de valores arrecadados em nome do cacique; cineasta nega

Cacique Raoni Metuktire
Cacique Raoni Metuktire - Foto: Marcos Colón/Amazônia Latitude - Montagem: Fabricio Vinhas
Cacique Raoni Metuktire

Cacique Raoni Metuktire – Foto: Marcos Colón/Amazônia Latitude – Montagem: Fabricio Vinhas

Em maio deste ano, a Amazônia Latitude foi alertada sobre uma denúncia feita pelo líder Kayapó Megaron Txucarramãe, um dia antes do embarque do cacique Raoni para uma série de eventos em Paris. Megaron acusava o cineasta belga Jean-Pierre Dutilleux de se promover às custas da imagem do líder Kayapó, desviando valores devidos aos indígenas.

Em sua acusação, Megaron pontua: “O Jean Pierre, desde a década de 1970, 1980, 1990, 2000 vem usando o meu tio Raoni para benefício dele, para arrecadação de dinheiro”.

As suspeitas surgiram em decorrência dos repasses ao povo indígena incompatíveis com o que era coletado usando o nome do cacique. Dessa maneira, faltava transparência nas arrecadações.

Megaron, que não concorda com o envolvimento do tio com o cineasta, diz que Jean-Pierre tira vantagem de Raoni — atualmente com a saúde debilitada — para ter acesso a autoridades na Europa, como os presidentes da França e de Portugal, e o rei da Inglaterra.

Ao receber o dossiê, composto por mais de 300 páginas, a Amazônia Latitude reconheceu sua importância, decidindo que o conteúdo merecia uma melhor apuração e divulgação. A revista procurou diversos veículos de comunicação, destacando as atividades em Paris do cacique Raoni, que estavam sob suspeição.

Apesar do alerta e do vasto material, muitos jornais hesitaram em publicar sobre a denúncia naquele momento, dada à complexidade do caso.

Nesta quinta-feira (14), a Associated Press News publicou o resultado da apuração, apontando abusos por parte de Jean-Pierre Dutilleux.

“Meu nome é usado para arrecadar dinheiro. Mas o Jean-Pierre não me passou muito para eu fazer alguma coisa”, reflete Raoni em entrevista à AP.

O cineasta belga negou qualquer irregularidade, afirmando não ter interesse no dinheiro reivindicado pelos indígenas, além de  acusar o antigo parceiro de dar declarações sem sentido: “Ele às vezes diz coisas assim, tem a ver com a idade. Talvez aconteça comigo também, dizer besteiras.”

A coordenadora executiva do Instituto Raoni comunicou à Amazônia Latitude que Jean-Pierre Dutilleux lançou um filme sobre ele e o cacique Raoni. No entanto, não possui informações detalhadas sobre o contrato que autoriza o uso de imagem e os termos de sua negociação.

Importante destacar que o Instituto Raoni não participou do processo de assessoria ao Raoni, uma vez que Dutilleux sempre se recusou a estabelecer diálogo com a instituição.

O Instituto Raoni solicitou ao cineasta esclarecimentos e prestação de contas sobre o destino dos recursos arrecadados durante o período em que o Dutilleux indevidamente utilizou a imagem do cacique Raoni para angariar fundos destinados ao povo Kayapó.

Além disso, o Instituto Raoni manifestou “veemente repúdio às declarações e à falta de respeito e decoro por parte do cineasta Jean-Pierre Dutilleux em relação à liderança Kayapó Raoni Metuktire”.

Reportagem: Isabella Galante
Revisão: Filipe Andretta
Arte e montagem do site: Fabricio Vinhas
Direção: Marcos Colón

Você pode gostar...

Translate »