As ecobarreiras podem salvar os igarapés de Manaus?
Com apenas um igarapé considerado limpo, pesquisadores e profissionais do meio ambiente criam expectativas sobre a instalação das estruturas
Instalação de ecobarreira no Passeio do Mindu auxilia serviço de limpeza dos igarapés realizado pela Prefeitura de Manaus. Foto: Valdo Leão/Semcom
Os igarapés de Manaus, antes locais de lazer e pesca, hoje sofrem com a poluição por lixo, esgoto e metais pesados. O aterramento de trechos, assoreamento de leitos somados ao descarte de lixo nos igarapés, mudou complemente o cenário dos cursos das águas urbanas da cidade. Dos inúmeros igarapés na capital amazonense, apenas o da “Água Branca” é considerado limpo em área urbana. No entanto, o cenário precário pode começar a reverter com a utilização das chamadas ecobarreiras.
Essas estruturas flutuantes têm como objetivo reter o lixo sólido dos igarapés antes que ele chegue a rios maiores. Elas funcionam como peneiras gigantes, interceptando desde grandes pedaços de plástico até pequenos fragmentos de material poluente. Em Manaus, já foram instaladas quatro estruturas que, segundo a Prefeitura da cidade, devem reduzir em até 70% a quantidade de resíduos sólidos recolhidos por mês, com a meta de recuperar os igarapés em até 15 anos.
Diego Saldanha, de 37 anos, conhecido pode ser um dos principais impulsionadores das ecobarreiras no Brasil, se dedica à causa há oito anos. Seu envolvimento com essas estruturas começou em 2016, quando, sozinho, iniciou um projeto em um rio próximo à sua casa, o Rio Atuba, localizado em Colombo, Paraná. Ele conta que viu o rio limpo se transformar em um corredor de lixo e se sentiu motivado a mudar essa realidade.
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Na época, a dificuldade maior era a falta de equipamento, já que as primeiras ecobarreiras foram feitas com garrafas pets. Hoje, as estruturas coordenadas por ele são produzidas no estilo balsa e mostram um resultado melhor, mas ainda com um desafio: as fortes chuvas. “Não conseguimos conter as chuvas das águas, com o passar do tempo, errando, aprendendo, fui criando modelos para aguentar a força da água como é o caso do modelo da ecobarreira com elevador”, relatou.
Longe de serem descartados em aterros, os materiais coletados pela ecobarreira encontram um destino promissor: uma cooperativa de reciclagem. Lá, os resíduos ganham um novo ciclo de vida, passando por triagem e seleção antes de serem vendidos para a indústria, impulsionando a economia circular. Segundo Saldanha, entre os itens mais encontrados estão as garrafas plásticas.
Para Sergio Duvoisin, pesquisador da UEA (Universidade do Estado do Amazonas), a revitalização dos igarapés é possível, mas não deve ser pensada como uma solução isolada. “Conseguiríamos em um prazo curto revitalizar os igarapés de Manaus com a utilização das ecobarreiras, o negócio é não jogar mais lixo nesses locais. É um trabalho da gestão pública e a conscientização da população, o lixo tem que ser colocado no lixo. E, com isso, o igarapé pode voltar a vida que tinha sim…”, explicou.
Como são feitas as avaliações em de ETEs?
As ETEs operam sob normas ambientais. Uma licença específica, emitida pelo IPAAM, define os parâmetros físico-químicos que o tratamento do esgoto deve atender, seguindo também as diretrizes da legislação do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente). Para garantir o cumprimento desses parâmetros, as concessionárias realizam análises periódicas, com frequência determinada pela licença ambiental.
Essas análises monitoram diversos indicadores, como pH, oxigênio dissolvido, DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio) e sólidos suspensos. Os resultados são comparados aos parâmetros da licença, assegurando que o tratamento esteja funcionando de forma eficiente e dentro dos padrões legais.
Em casos de paralisação de uma ETE, a equipe do condomínio segue um protocolo: primeiro, uma vistoria é realizada no local para identificar a causa do problema. Em seguida, a empresa responsável pela manutenção da ETE é contatada para obter informações sobre a situação e o tempo estimado para reparo.
“As paralisações de ETEs geralmente são momentâneas e ocorrem por motivos de manutenção preventiva ou corretiva. São situações incomuns e a equipe do condomínio trabalha para solucioná-las o mais rápido possível. Também é importante não confundir ETEs inativas com ETEs que estão paralisadas por algum motivo”, explicou Suzy Tavares, diretora técnica de Concessões, Obras e Saneamento da Ageman.
Cabe ressaltar que o tratamento de esgoto nessas estações colabora com a melhora da qualidade de vida da população e na recuperação dos principais igarapés da cidade. À reportagem, a empresa Águas de Manaus informou que a expectativa é ampliar ou construir mais 70 ETEs na capital amazonense nos próximos anos.
A saúde do igarapé está relacionada à saúde pública
Por outro lado, na avaliação do professor Erivaldo Cavalcanti, da UEA, a limpeza total das águas pode levar décadas mesmo com a utilização das ecobarreiras. “A limpeza de um curso hídrico é demorada e pode levar décadas. As ecobarreiras são um caminho, ajudam, mas é preciso avaliar o outro lado”, explicou Cavalcanti.
Segundo o Pacto Global da ONU, o litoral do Brasil conta com quase 600 pontos de entrada de resíduos plásticos no Oceano Atlântico. De acordo com a pesquisa, os locais mais preocupantes são as desembocaduras dos rios Amazonas (com aproximadamente 160 mil toneladas por ano), São Francisco (230 mil toneladas por ano) e Baía de Guanabara (216 mil toneladas por ano).
A poluição química e a degradação dos igarapés não se limitam apenas à destruição do meio ambiente. Em um ambiente contaminado, doenças como diarreia, leptospirose e dengue encontram terreno fértil para proliferar. A água poluída, utilizada para consumo, banho e pesca, se torna um veículo de transmissão de doenças, levando à morbidade e à mortalidade.
“A qualidade de vida fica extremamente abalada quando se mora em situações de pouca higiene e sem saneamento básico como é o caso de pessoas que moram em palafitas ou próximo a igarapés, o que certamente somando as doenças, afeta a saúde mental dessa população”, explicou o infectologista Noaldo Lucena.
Ecobarreiras também podem somar no desenvolvimento econômico e social
Desde o auge do ciclo da borracha e a criação da ZFM (Zona Franca de Manaus), a capital amazonense experimenta um crescimento populacional e urbano vertiginoso. De 2009 a 2023, a população saltou 18,66%, de 1.738.641 milhões de pessoas passou para 2.063.547 milhões de pessoas. Esse crescimento acelerado acentuou as desigualdades sociais, com o aumento de áreas precárias, falta de acesso à moradia digna e desenvolvimento econômico.
Pensando nisso, as ecobarreiras barreiras também podem contribuir com o desenvolvimento social e econômico da população manauara, como explica o economista Altamir Cordeiro. “Essas estruturas podem melhorar a qualidade de vida das pessoas e, se for possível, também podem colaborar com a renda econômica da população, com a criação de associações de reciclagem, por exemplo”, disse.
Segundo ele, as estruturas servem como um exemplo visual do impacto ambiental do descarte inadequado de resíduos e incentivam práticas mais sustentáveis entre comunidades locais, mas “há necessidade de uma combinação de suporte comunitário, políticas públicas adequadas e colaboração contínua de entidades locais e de outras empresas de fora do Amazonas que tenham experiências de sucessos”, pontuou.
A Amazônia Latitude entrou em contato com Manuel Ademar Pinheiro, mais conhecido como “Mazinho da Carbrás”, ativista ambiental e idealizador do projeto das ecobarreiras em Manaus, no entanto, até o fechamento desta reportagem, não obteve retorno.
Produção: Elanny Vlaxio
Edição: Alice Palmeira
Revisão: Marcos Colón
Direção: Marcos Colón