Fotogaleria: Cultura, arte e diversidade fazem parte do lado profano do Círio de Nazaré
Série fotográfica regista o Arrastão do Círio, o Auto do Círio e a Festa da Chiquita 2024, que compõe o lado profano da festa religiosa


Auto do Círio reúne artistas e brincantes que se fantasiam e se apresentam falando de fé e também sobre temas importantes para a Amazônia. Foto: Alexandre Moraes / Amazônia Latitude
Se você já viu a imagem aérea do Círio de Nazaré, em Belém do Pará, já sabe que nos segundos domingos de outubro dois milhões de pessoas saem às ruas em procissão numa das maiores exibições de fé do Brasil. Mas há muito mais do que devoção durante o Círio de Nazaré. Cultura, arte e diversidade também são parte indissociável desta festa. São pelo menos três grandes eventos que provam que o Círio também tem seu lado profano.
Auto do Círio
Ao cair da noite, na sexta-feira que antecede o Círio de Nazaré, fantasias, personagens e artístias desfilam pelas ruas do mais antigo bairro de Belém em um espetáculo que reúne música, teatro e dança. É o Auto do Círio.
Considerado Patrimônio Histório e Imaterial da Cultura do Pará, o cortejo cênico carnavalizado é um projeto de Extensão da Universidade Federal do Pará, fundado pelas professoras Zélia Amador e Margareth Rafkalefsky, em 1993.
A cada ano, um tema alerta sobre questões sociais, econômicas, políticas, culturais e ambientais sobre a Amazônia. Desta vez, o tema da apresentação foi “Bendita és tu, Mãe-Terra: Nossa Senhora de Todas as Lutas”, partindo do conceito indígena para alertar sobre a importância da preservação do meio ambiente e dos povos que ajudam a manter a Floresta Amazônica de pé.
’Mãe Terra’ é um conceito interplanetário e transcendes todas as culturas e simboliza a interdependência entre Nós seres humanos e o planeta Terra. ‘Mãe Terra’ que nos fornece ar puro, água potável, alimentos nutritivos e matéria–prima para o nosso bem-viver. Quando refletimos sobre a ligação entre Nossa Senhora de Nazaré e o planeta Terra, encontramos simbolismo forte da fé mariana que faz o chamado à responsabilidade ecológica”
Para a organização da festa, “a padroeira da Amazônia nos convida a lutar para que a sacralidade da natureza, as populações tradicionais, a inclusão e a diversidade sejam reconhecidos e respeitados”.
O Cortejo teve concentração às 19h, do dia 11 de Outubro, na Praça do Carmo, no bairro da Cidade Velha, em Belém, e partiu por várias ruas até passar em frente à Igreja de Nazaré (de onde parte a grande procissão do Círio no domingo) e pelo Museu do Estado do Pará (construído para ser o lar da família real Portuguesa na Amazônia durante o período colonial) até chegar em frente ao Instituto Histórico e Geográfico do Pará (IHGP) onde um palco foi montado.
Durante o cortejo, centenas de artistas e brincantes apresentam perfornances que vão desde uma cobra-grande articulada até alegorias independentes que fazem referência à Nossa Senhora de Nazaré e também aos Orixás, reunindo pássaros e matintas, carnaval e fé, em um mistura cultural e artística colorida e única.
Arrastão do Círio
Sempre no segundo sábado de outubro, em Belém do Pará, chapéus enfeitados com fitas de cores vibrantes, caras pintadas, pernas de pau e uma batída única tomam das ruas. É o Arrastão do Círio, a quinta edição anual do Arraial do Pavulagem, que reune mais de 30 mil pessoas em seus cortejos.
Realizado pela Instituto Arraial do Pavulagem, a festa foi reconhecida como manifestão da cultura brasileira pela Lei nº 14.961/2024 e, desde 2017, já era considerada Patrimônio Cultural de Belém e também Patrimônio Cultural do Pará, desde 2020.
Em 2024, o Arraial do Pavulagem contou com sua 37ª edição e levou às ruas o tema “Arraial do Saber”, celebrando a ancestralidade e o papel das mulheres – mestras da cultura popular – que representam a natureza-mãe e sua força e poder de criação.
O calendário do Arraial começa ainda no primeiro semestre com a organização de oficinas de pernas de pau, dança e brinquedos animados, além, claro, das aulas de percussão com instrumentos como barrica, maraca, matraca, ficheiro, tambor-onça e reco-reco.
Depois, os músicos se juntam aos membros mais experientes no chamado Batalhão da Estrela e ensaiam para as apresentações que ocorrem entre o final do mês de junho e início do mês de julho.
O Arraial, então, tem concentração na Praça da República, em frente ao Theatro da Paz e, depois, parte seguindo o Boi Pavulagem pela Avenida Presidente Vargas, pela Rua Municipalidade e segue até a Praça Waldemar Henrique com show popular.
Mas, a festa tem sua edição especial no sábado que antecede o Círio de Nazaré. Assim que a Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Nazaré desembarca na orla de Belém após o Círio Fluvial, a quarta romaria oficial da festa, enquando os romeiros acompanham a Motoromaria, os brincantes fazem um cortejo diferente em direção oposta.
Nesta apresentação, realizada no dia 12 de outubro, ao invés de seguir o Boi, é a Barca de Miriti, símbolo do Círio Fluvial e da Rainha das Águas, que se torna o centro da festa. Elementos cênicos e personagens ligados ao Círio são incorporados ao Batalhão do Estrela que faz, à sua maneira, homenagens à padroeira dos paraenses há 22 anos.
O cortejo do Arrastão do Círio tem concentração na Avenida Boulevar Castilho França, próximo à Avenida Presidente Vargas e passa pelo Ver-o-peso até a avenida 16 de Novembro até chegar na Travessa Félix Roque. O cortejo termina na praça Dom Pedro II, onde são realizados shows gratuitos da banda do Arraial do Pavulagem e convidados com ritmos como Mazurca, Retumbão, Samba de Cacete e Rojão.
Além disso, na edição 2024 do evento, durante a concentração do cortejo, “O pavulagem” organizou uma apresentação intitulada “Ode à Amazônia”, em homenagem à Nossa Senhora de Nazaré e fazendo um chamado à preservação da floresta.
Festa da Chiquita
O Círio de Nazaré tem sua própria “parada LGBTQIA+”. Com 50 anos de ativismo social e 47 de evento, a Festa da Chiquita reune a comunidade queer no sábado que antecede o Círio de Nazaré.
Este ano, a Festa da Chiquita foi realizada no dia 12 de outubro, em frente ao Theatro da Paz, na Praça da República, assim que a Transladação acabou.
Com apresentações e performaces de bandas, DJs, Drag e outros artistitas, o evento tem um importante papel na história de luta pela diversidade na Amazônia, por isso, trouxe como tema “Chiquita: 20 anos de patrimônio e memória” e teve como foco a importância da saúde mental.
O “Festa da Chiquita” faz alusão à personagem “Chiquita Bacana”, vinda de marchinhas de carnaval e que representa uma mulher existencialista. A festa é reconhecida como patrimônio cultural e imaterial pelo Iphan, desde 2004, e pela Unesco, desde 2016.
Um dos momentos mais especiais do evento foi a entrega dos troféus “Viado de Ouro” a personalidades que se destacam na promoção e defesa da luta LBGTQIA+ no Pará e no Brasil. Na edição deste ano, Dona Onete – cantora paraense – foi uma das homenageadas.
Juntas as três festas que são reconhecidas como patrimônio juntam arte, cultura e diversidade às tradições do Círio. E é esse lado profano do Círio de Nazaré que o fotógrafo Alexandre Moraes te mostra nessa fotogaleria especial. Com você: O Arrastão do Círio, o Auto do Círio e a Festa da Chiquita 2024.

O Arrastão do Círio junta fé e cultura no sábado que antecede o Círio de Nazaré. Foto: Alexandre Moraes / Amazônia Latitude

Pelas ruas de Belém, Milhares de pessoas saem em cortejo passando pelo Ver-o-peso no Arrastão do Círio. Foto: Alexandre Moraes / Amazônia Latitude

Chapéus com fitas coloridas são alguns dos símbolos do Arrastão do Círio. Foto: Alexandre Moraes / Amazônia Latitude

Pernas de pau e caras pintadas também fazem parte da festa que se desenvolve no entorno da Barca de Miriti. Foto: Alexandre Moraes / Amazônia Latitude

O Arrastão do Círio também chama a atenção para a preservação da Amazônia. Foto: Alexandre Moraes / Amazônia Latitude

Brincantes passam por meses de preparação para participar do Arrastão do Círio. Foto: Alexandre Moraes / Amazônia Latitude

Banner do Auto do Círio. Foto: Alexandre Moraes / Amazônia Latitude

Auto do Círio passa com arte em frente à Igreja da Sé, de onde parte do Círio do domingo. Foto: Alexandre Moraes / Amazônia Latitude

Em vários momentos do Auto do Círio, o público manifesta sua fé de uma forma diferente. Foto: Alexandre Moraes / Amazônia Latitude

Caboclos e Orixás também estão presentes no Auto do Círio. Foto: Alexandre Moraes / Amazônia Latitude

Um “carnaval de rua” acontece na sexta-feira antes do Círio em Belém. Foto: Alexandre Moraes / Amazônia Latitude

Fantasias e personagens percorrem as ruas da capital durante o Auto do Círio. Foto: Alexandre Moraes / Amazônia Latitude

Festa da Chiquita é realizada há quase 50 anos em Belém na véspera do Círio sob organização do cantor Eloi Iglesias. Foto: Alexandre Moraes / Amazônia Latitude

Show e apresentações foram realizado em frente ao Theatro da Paz, na Praça da República, em Belém. Foto: Alexandre Moraes / Amazônia Latitude

Festa da Chiquita é a “parada LGBTQIA+” do Círio de Nazaré. Foto: Alexandre Moraes / Amazônia Latitude

Público aproveita as apresentações durante a Festa da Chiquita. Foto: Alexandre Moraes / Amazônia Latitude

Bandas, Djs e Drags se apresentam durante a Festa da Chiquita. Foto: Alexandre Moraes / Amazônia Latitude

A Festa da Chiquita é reconhecida como patrimônio cultural e imaterial. Foto: Alexandre Moraes / Amazônia Latitude

Festa da Chiquita reune a comunidade queer no sábado que antecede o Círio de Nazaré. Foto: Alexandre Moraes / Amazônia Latitude

Dona Onete – cantora paraense – foi uma das homenageadas com o Trofeu Viado de Ouro 2024 durante a Festa da Chiquita. Foto: Alexandre Moraes / Amazônia Latitude
Texto: Glauce Monteiro
Montagem da página: Alice Palmeira
Fotografias: Alexandre Moraes
Direção: Marcos Colón