O pensamento ecológico e as mulheres

Embora os debates sobre as questões ambientais não tenham começado agora, eles intensificaram-se a partir da década de 70 do século passado e se fizeram mais presentes nos círculos de conversas e debates cotidianos e acadêmicos na virada do século XXI, quando a comunidade científica acionou definitivamente o sinal vermelho de alerta sobre os problemas da degradação do Planeta quase irreversíveis. Esses problemas que não são fruto das sociedades modernas e tecnológicas – embora acelerados por elas – tiveram sua gênese quando começaram as interferências do Homo sapiens no Planeta há 70 mil anos, dando início ao período que hoje conhecemos como Antropoceno. Apesar de todo esse tempo, como considera Timothy Morton, o pensamento ecológico não estava disponível para os seres humanos não modernos, coube a nós os ditos modernos – se é que um dia os fomos – cultivar o pensamento ecológico.

Pode-se dizer que foi a partir do momento que tivemos consciência dos problemas ecológicos que passamos a conviver com o que Enrique Leff chama de crise da civilização. Essa crise não era vista como algo eminente, ainda que problemas como os do aquecimento global e formas diversas de degradação do meio ambiente fossem correntes, pareciam algo longe das nossas tendas, um assunto para os círculos de especialistas, para os climatologistas e ecologistas, ou para ativistas verdes, por exemplo, não para um cidadão comum, mesmo para aqueles que dependiam da chuva ou do sol para plantar e para colher.

Hoje, lembra-nos Timothy Morton, “Quando você pensa para onde vai o seu lixo, seu mundo começa a encolher”, e quando se fala sobre o meio ambiente, ele deixa de ser algo estranho a nós, “Aquela Coisa Ali que nos cerca e sustenta” passa a ser o motivo das nossas preocupações e parte dos nossos problemas que precisam ser resolvidos sem postergação, pois já não são mais individuais, são coletivos; não são mais problemas a serem resolvidos a longo prazo, carentes de atraso, exigem ações concretas, urgentes e coletivas. Não são problemas a serem pensados e resolvidos pelas gerações futuras, são problemas de todas as gerações, das presentes para as futuras, destas cujo futuro parece incerto. As cenas destruição do Planeta, que pareciam ser apenas fruto da imaginação de diretores de filmes de ficção, saltam das telas e fazem-se presentes no ar, no solo, nos mares e oceanos, no que comemos e em nós mesmos.

Pensar um pensamento ecológico

Pensando que os problemas ambientais são coletivos e carecem de medidas urgentes, Timothy Morton nos convida a pensar um pensamento ecológico, um pensamento que, como um vírus, deve infectar as nossas mentes, as nossas ideias, os nossos modos de viver, ver e entender as coisas. E, certamente, esse vírus começa a se espalhar pelo mundo e a infectar mentes, de crianças, jovens e adultos. A jovem ativista, Greta Thunberg, é um exemplo disso, seu posicionamento contundente em defesa do Planeta e da Amazônia a coloca na direção do que Agamben nos ensina sobre o que é ser contemporâneo, e em certo tom no conjunto dos que já estão contaminados pelo viço do pensamento ecológico. Mas esse pensamento ainda se mostra tímido. É um surto ou uma epidemia. Porém, precisa tornar-se uma pandemia, para que nos leve a enxergar os problemas que causamos ao Planeta na proporção que eles realmente são.

Com apenas 16 anos de idade, a ativista ambiental Greta Thunberg mobiliza milhões de pessoas em torno da causa. Este ano, Greta foi considerada a personalidade do ano pela revista TIME. Foto: Divulgação.

É preciso, como pensa Morton, que o pensamento ecológico se arraste por outras ideias até que nenhum lugar deixe de ser tocado por sua presença; que se torne um pensamento infinito, que vá além das nossas ideias preconcebidas, que vise à totalidade, que não seja um pensamento limitado; não seja um pensamento pensado por poucos, ou tido apenas como ideias sem corpo, abstratas, até mesmo sem sentido, sem noção ou sem a dimensão da sua importância. Que se torne um pensamento que supere o próprio pensamento ambiental, que pense além da Natureza, além das nossas necessidades, além da nossa sobrevivência, além das ciências, da filosofia, das artes, da história e da literatura. Que seja um pensamento da/para a humanidade, da humanidade para os não humanos. Que não seja preciso sofrermos as mais cruéis catástrofes para termos a consciência de que é preciso pensar ecologicamente, assim como muitos pensam filosoficamente, politicamente, religiosamente e até futebolisticamente.

O caminho para um pensamento ecológico, como nos diz a poética filosófica do Skank, “só existe quando você passa”; quando passamos a pensar sobre a importância de tudo isso que nos rodeia como o suporte para o prolongamento da nossa existência no Planeta. Daí que pensar um pensamento ecológico requer que sejamos capazes de não apenas ver, mas perceber e sentir as consequências das nossas ações no meio ambiente, como argumenta em algum lugar Tim Ingold. Quando passamos a ver os problemas ambientais como óbvios, não mais com aquele resquício de dúvida, em que ainda cabe “será?”, mas em vez disso, “sim”, “com certeza”, estamos realmente vivendo um pensamento ecológico. Quando não vemos mais que os problemas do Planeta são restritos a especialistas, a climatologistas e a ecologistas, mas nossos, e chamamos para nós a responsabilidade de pará-los o mais depressa possível, estamos vivendo o pensamento ecológico. Quando passamos a ver, nesse óbvio, como adverte Timothy Morton, que tudo está interconectado, humanos e não humanos estão interligados numa teia única que depende de cada um dos que nela se prendem para que se mantenha resistente às intempéries, sentimos paixão e compaixão pelo Planeta, estamos vivendo o pensamento ecológico.

Para Timothy Morton, o pensamento ecológico não diz respeito apenas ao aquecimento global, à poluição dos mares, oceanos, rios e praias, nem se reduz ao susto que levamos com as notícias diárias do degelo de tal modo acelerado das geleiras polares; não se limita à extinção de espécies animais e vegetais – que não tem sido pouca – nem fica alheio ao descuido com o nosso lixo e com o destino inapropriado que damos a ele, ou a sua não reciclagem. Tem a ver com tudo o que nos move: com o amor, com a paixão, com o medo, a depressão, o desespero, o prazer, a dor, a beleza e a feiura, a vida, a morte. Tem a ver com a noção de espaço e tempo. Tem a ver com ideias de si e os estranhos paradoxos da subjetividade. Tem a ver com a sociedade. Tem a ver com coexistência. Tem a ver com a consciência. Tem a ver, como arremata Morton, com “o infinito [que] transborda o pensamento que o pensa”.

A ideia de pensamento ecológico, que Timothy Morton nos incita, visita a ideia de ecologizar a sociedade e a política pensada por Bruno Latour, intelectual cujas ideias tratam da ecologia política, esta que não pode, no ver de Latour, ser inserida nos vários nichos da modernidade, mas exige, em certa medida, que seja entendida como alternativa à modernização, sem ver as questões ecológicas tão somente como responsabilidade da ecologia, sob o argumento de que a humanidade e a natureza são uma e a mesma coisa e que agora é necessário administrar um único sistema da natureza e da sociedade, a fim de evitar um desastre moral, econômico e ecológico. Latour considera que esse pensamento ao fundir humanos e não humanos tenderia a tornar o pensamento ecológico responsabilidade de especialistas, aqueles que – e tão somente eles – saberiam diferenciar humanos de não humanos, já que a ecologia política, quando trata de natureza, sempre supõe a participação dos humanos, e quando diz que pretende proteger a natureza e deixá-la ao abrigo do homem, volta a incluir os humanos, que intervêm ainda mais vezes de forma ainda mais refinada e com aparelhagem científica ainda mais invasora. Latour ironicamente interroga, o que seria um ser humano sem plantas, leões, cereais, oceanos, ozônio ou plâncton? Num universo do que chama de paradoxos, Latour considera que a ecologia política não saberia conservar a natureza.

O pensamento ecológico, para Timothy Morton, vai além da questão da relação homem e natureza e extrapola as linhas das artes, da filosofia, história, da literatura. Pensar ecologicamente, para Morton, é entender que seres humanos precisam um do outro tanto quanto precisam de um ambiente, e que os seres humanos são também ambiente um do outro. Pensar ecologicamente, portanto, não se resume ao humano e não humano, não se resume a sobre o que se pensa, mas a como também se pensa.

O pensamento ecológico na bagagem das mulheres

Se o pensamento ecológico exige a coletividade, como nos indica Morton, as mulheres não se furtaram a pensar sobre os problemas ecológicos que nos aturdem. Não são poucos os trabalhos de mulheres e que tratam sobre as questões ecológicas problematizadas a partir do olhar de uma coletividade que fez ausente nos debates políticos de sociedades governadas em maioria por homens. À medida que conquistaram espaços, nos lugares onde estiveram ausentes, elas marcaram presença significativa, seja pelos movimentos feministas em que teceram vozes e reivindicações, seja através dos coletivos nos quais se organizaram para lutar em defesa de direitos e representatividade. Entretanto, não podemos pensar que a presença das mulheres se dá de forma mais significativa nos espaços de maior visibilidade social, como escolas, universidades e grupos comunitários dos centros urbanos. Longe deles, mulheres tecem seus saberes sobre as questões com o cuidado com o meio ambiente e com a vida, conciliando saberes tradicionais e saberes acadêmicos, caso de Juma Xipaya, 25 anos, estudante de medicina na Universidade Federal do Pará e a primeira cacique mulher da aldeia de Tukamã, na região de Altamira, no Pará. Juma é um exemplo de como as mulheres têm se organizado em liderança entre os povos da floresta, lutando contra invasores que afrontam, agridem e matam indígenas, e em defesa de sua cultura e de suas terras. A liderança de Juma na aldeia de Tukumã não é simplesmente a presença da figura de uma mulher, é a valorização e a afirmação da importância da mulher entre os povos onde a presença do homem ainda é o signo de liderança.

Aos 25 anos, Juma Xipaya é a primeira cacique mulher da aldeia de Tukumã, na região de Altamira, no Pará. Foto: Divulgação.

Se a presença das mulheres nos espaços onde se discutiam os problemas ambientais, principalmente nos parlamentos, onde elas eram minoria, como hoje ainda são, tem sido marcada por enfrentamentos ante as ideias masculinas, tantas delas misóginas, preconceituosas, pode-se dizer que as mulheres passaram a participar de forma mais assídua em todas as frentes, em que a problemática ambiental era colocada como pauta, a partir da década de 90 com a realização da Eco-92, sediada no Rio de Janeiro – embora, antes disso, não estivessem alheias. Prova disso é que quatro décadas antes, nos idos de 1950, a bióloga e pesquisadora da vida marinha estadunidense, Rachel Carson, empreendeu estudos sobre as consequências dos agrotóxicos produzidos por indústrias químicas americanas e usados em grandes extensões de lavouras para combater pragas. “Os produtos químicos aos quais a vida é solicitada a fazer seu ajuste não são mais apenas o cálcio, a sílica e o cobre e todo o restante dos minerais lavados das rochas; … são criações sintéticas da mente inventiva do homem, fabricadas em laboratórios e sem contrapartida na natureza”, advertia Carson.

Carson defendia a tese de que as consequências do uso desordenado de pesticidas eram as mais diversas e comprometiam não somente o ar e o solo, mas a vida de todos aqueles que viviam nos espaços onde o veneno era utilizado e mesmo os de outras áreas de longo alcance. Segundo a pesquisadora, a disseminação dos pesticidas e o contato com o meio ambiente alterariam os processos celulares das plantas, reduziriam as populações de pequenos animais e colocariam em risco a saúde humana com danos irreversíveis. As denúncias da bióloga incomodaram a sociedade americana quando passam a ser publicadas na The New Yorker, revista de prestígio e de grande alcance nacional e internacional. Mais tarde, o resultado da pesquisa, que teve a participação de especialistas em saúde americanos, foi dado ao público de forma mais contundente quando da publicação do livro Primavera Silenciosa (Silent Spring) em 1962, dois anos antes da morte de Carson, obra que teve repercussão na sociedade estadunidense, posto que desencadeou debates em nível nacional, com grande ênfase no Congresso daquele país.

Acusada pelas indústrias químicas de alarmistas, sob pesada bateria de críticas com o intuito de descreditá-la ante a opinião pública, Carson não se intimidou e, colocou-se como defensora aguerrida de suas ideias, quando foi ao Senado americano, onde declarou que a atitude do homem em relação à natureza assumia, àquela altura, poder fatídico para alterar e destruir a natureza. Para Greg Garrard, é consenso que Carson é hoje considerada a mãe do ambientalismo norte-americano moderno e um dos principais nomes que se opuseram aos crimes contra o meio ambiente praticados por grandes indústrias e proprietários de lavouras.

Pode-se dizer que, de certo modo, as ideias de Carson instigaram o pensamento ecológico de modo mais consciente com relação às ações humanas na natureza e no meio ambiente. E apesar das restrições impostas, as mulheres assumiram um protagonismo não só no que diz respeito aos direitos que lhes cabiam, mas também com relação às questões ambientais. Na década de 70, por exemplo, vimos chegar às universidades, ainda que timidamente, movimentos em defesa do meio ambiente liderado pelos mulheres, e com eles aquele que hoje conhecemos como Ecofeminismo, o qual, àquela altura mal compreendido, juntamente com outros movimentos sociais, colocou nas discussões uma série de questões importantes, entre eles a exploração dos corpos e do trabalho das mulheres, além da destruição da natureza. Começava-se então a pensar a vida no Planeta não mais pelo viés antropocêntrico, mas sobretudo pelo ecocêntrico, mas principalmente sob o ponto de vista das mulheres.

Rachel Carson foi uma bióloga marinha, escritora, cientista e ecologista norte-americana. Através da publicação de Silent Spring, artigos e outros livros sobre meio ambiente, Rachel ajudou a lançar a consciência ambiental moderna. Foto: Divulgação.

Na década de 90, na realização da Eco-92, quando o mundo se encaminhava para o final do milênio, as mulheres têm um espaço relevante nos debates sobre as questões ecológicas. Ali, sem metáforas e justificativas para postergações, o mundo começava a traçar um novo caminho para pensar sobre os problemas ambientais que começavam a reduzir o tempo de vida no/do Planeta. A era das guerras, das revoluções, da cultura da barbárie encabeçada pelos homens começava então a ser deixada para trás, e as mulheres assumiam o protagonismo, o compromisso com a vida, com uma nova ordem, a Ordem da Vida. A Eco-92, há 27 anos, não só serviu para repensar o futuro do Planeta, mas principalmente para afirmar que o conhecimento antes visto sob a imagem do que Georg Simmel chamou de “cultura masculina” retardou a participação das mulheres nas diversas decisões planetárias, entre elas a de pensar sobre as questões ecológicas.

A partir década de 90, a presença das mulheres se fez mais marcante e decisiva quando o assunto são as questões ecológicas e ambientais. Organizadas nos mais diversos movimentos, entre eles o que chamam coletivos, elas pensam e põem em prática ideias que dizem interesse ao bem comum. Podemos dizer que o século XXI é o século das mulheres, em que elas têm participação decisiva sobre as questões que aturdem o Planeta. Em sua Carta das mulheres para a humanidade publicada em dezembro de 2004, quando do V Encontro Internacional da Marcha Mundial de Mulheres, em Ruanda, elas assim se expressam:

Estamos construindo um mundo no qual a diversidade é uma virtude; tanto a individualidade como a coletividade são fontes de crescimento; onde as relações fluem sem barreiras; onde a palavra, o canto e os sonhos florescem. Esse mundo considera a pessoa humana como uma das riquezas mais preciosas. Um mundo no qual reinam a igualdade, a liberdade, a solidariedade, a justiça e a paz. Este mundo nós somos capazes de criar. Constituímos mais da metade da humanidade. Damos a vida, trabalhamos, amamos, criamos, militamos, nos divertimos. Garantimos atualmente a maior parte das tarefas essenciais para a vida e a continuidade da humanidade. No entanto, nessa sociedade continuamos sendo oprimidas.

E demarcam de modo claro o seu pensamento sobre a relação entre natureza e necessidades humanas, quando indicam:

Os recursos naturais, os bens e os serviços necessários para a vida de todas e de todos são bens e serviços públicos de qualidade aos quais cada pessoa tem acesso de maneira igualitária e equitativa.Os recursos naturais são administrados pelos povos que vivem nos territórios onde eles se encontram, de respeitando o meio ambiente e atuando para sua preservação e sustentabilidade.

Alicia H. Puleo concorda que o ecofeminismo permite que as mulheres pensem de forma crítica e ajam conscientemente com relação aos direitos das minorias e desprivilegiados, aos valores éticos, ao cuidado com os animais e a Natureza, com a consciência da unidade e interconexão entre humanos e não humanos, como forma de apreender, de maneira consciente, os problemas socioambientais. O fortalecimento de um ecofeminismo crítico, lembra Puleo, coincide com a preocupação das mulheres com respeito a todas as questões para as quais as mulheres são chamadas a pensar e decidir.

A missionária americana Dorothy Stang, assassinada no dia 12 de fevereiro de 2005, aos 73 anos. Irmã Dorothy, como era conhecida, foi responsável pela criação do primeiro programa de desenvolvimento sustentado da Amazônia, em Anapu (PA). Foto: Divulgação.

Algumas mulheres não esperaram serem convocadas a pensar e decidir, elas se dispuseram a ir, a sair da sua zona de conforto para experienciar a realidade social e os problemas ecológicos nas mais diversas regiões do Planeta. A defensora do meio ambiente e freira católica, Dorothy Stang, foi uma dessas mulheres que se colocaram em defesa da floresta e dos povos que nela vivem. Pagou com sua vida, em 2005, pela ousadia de defender a vida, a dignidade dos invisibilizados ante dos abusos dos que se colocam como donos do poder e vozes que silenciam os que pensam com um pensamento ecológico e que visa ao prolongamento da existência do Planeta, não o que a floresta pode favorecer, não o lucro a curto prazo.

Um pensamento ecológico sem etiquetas

Timothy Morton observa que um pensamento ecológico não se prende a gênero, nem à idade ou à ideologia de qualquer natureza; é um pensamento sem etiquetas, é um pensamento que pensa sobre o Planeta e o seu futuro; deve ser pensado por homens e mulheres, crianças, jovens e velhos. Pensar um pensamento ecológico é pensar com a consciência de que a humanidade precisa cuidar do ambiente que a envolve, caso contrário o caminho em que pensa caminhar para o futuro a leva para o abismo e para o fim.

O pensamento ecológico, nos faz cientes das nossas atitudes e práticas, torna-nos éticos e não menos homens com posições estéticas. Como homens éticos e estéticos, não cuidamos do Planeta porque nos sentimos bem fazendo isso, ou porque é bonito, mas porque temos consciência de que dependemos desse Planeta sadio para prolongar a nossa existência nele. Como observa Morton, um homem com pensamento ecológico “pensa em frente. Sabe que apenas começamos, como alguém que acorda de um sonho”. É quando pensamos com um pensamento ecológico que entendemos, por exemplo, que “Somos responsáveis pelo aquecimento global. […] Somos responsáveis pelo aquecimento global simplesmente porque somos sencientes. Nenhuma razão mais elaborada é necessária”.

Talvez a ciência de que descuidando do Planeta estamos descuidando de nós mesmos, e o veneno que jogamos na lavoura envenena a nós todos, apresse o nosso passo rumo a um pensamento ecológico. Em síntese, como bem nos adverte Timothy Morton, o pensamento ecológico não pode ser sombrio, mas não suicida. Apesar da nossa intimidade com outros seres com quem interagimos ser de tal modo ambígua e até mesmo obscura – ainda insistimos demarcar diferenças entre nós/humanos e eles/não-humanos – a “descoberta em si é uma forma de cuidado. É muito mais afirmativo acordar na escuridão do pensamento ecológico do que continuar sonhando com a vida destruída para sempre”.

 

Joaquim Onésimo Ferreira Barbosa é Professor e Mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia pelo Programa de Pós-Graduação Sociedade – PPGSCA e Cultura na Amazônia da Universidade Federal do Amazonas – UFAM.
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