Por uma agenda ambiental na segurança pública da Amazônia
Uma sobreposição de redes clandestinas vem se firmando e ameaçando os povos da floresta, bem como os recursos indispensáveis para a manutenção da vida
Para falarmos sobre o contexto social, político e econômico da Amazônia é necessário compreendermos melhor os processos decisórios que partem dos agentes hegemônicos do capital. Faço essa afirmação em função de estar acompanhando os graves problemas de ordem ecológica que a região vem sofrendo nos últimos anos.
Trata-se da implementação de atividades relacionadas a uma dinâmica neoliberal que se apresenta enquanto agenda política necessária para a exploração dos recursos naturais, algo muito presente na gestão do governo Bolsonaro (2019-2022).
Ajustes estruturais são realizados como forma de dar vazão a todos os tipos de recursos extraídos da floresta. E isso serve para fortalecer o garimpo, a extração madeireira, a agropecuária, a dendeicultura e a grilagem de terras –ou seja, práticas que, manifestadas de formas ilícitas, alimentam o mercado da violência.
Só para se ter uma ideia, os povos da floresta passaram a conviver com as mais diversas relações sociais que partem da clandestinidade, onde redes criminosas estabelecem conexões entre cidades e territórios que estão sob sua influência.
Há, portanto, uma espécie de neocolonialismo do crime que envolve toda a região, desde suas fronteiras extremas até o interior da floresta. Além disso, a maior ameaça que estamos enfrentando está relacionada à presença cada vez maior de facções ou milícias armadas em território de comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas.
Podemos destacar que a fragilidade institucional provocada pelo Estado durante o governo passado favoreceu a dinâmica criminosa que é alimentada pelo contrabando, pela biopirataria e pelo narcotráfico.
As atividades ilegais na Amazônia correspondem à sobreposição de redes clandestinas que vêm se firmando em forma de territórios e ameaçando os povos da floresta, bem como os recursos indispensáveis para a manutenção da vida.
Por isso, é imprescindível considerarmos a relação íntima entre os crimes ambientais e a presença de facções criminosas e milícias. Diante do descaso por parte do Estado, a violência constitui-se enquanto um elemento definidor das relações de poder.
E no campo destas disputas temos: indígenas, quilombolas, ribeirinhos, camponeses, fazendeiros, madeireiros, garimpeiros, empresas e o Estado. Trata-se de uma violência que marca a geografia das disputas pelo uso do território na Amazônia.
Caberá, então, ao novo governo inserir a agenda ambiental em uma agenda de segurança pública, destacando a importância de reconhecermos a diversidade dos povos da Amazônia.
Com isso, o governo poderá estabelecer políticas públicas que, ao mesmo tempo, promovam a proteção da floresta e a garantia de direitos fundamentais dos povos amazônidas. E assim, finalmente, enfrentar de forma séria e inteligente a presença do crime organizado, de modo a garantir a soberania e controle efetivo do território.