Fotogaleria: a posse de Ailton Krenak na Academia Brasileira de Letras, o primeiro indígena imortal
Série fotográfica registra o momento histórico da cerimônia de posse de Ailton Krenak na cadeira número 5 da ABL
Em seu discurso de posse, Krenak citou o poema Eu sou 300, de Mário de Andrade, em referência às mais de 300 etnias que representa ao fazer parte da ABL. Foto: Marcos Colón
Ailton Krenak fez um discurso histórico em 1987 na Assembleia Constituinte. E na última sexta-feira (5), ele fez outro. Porém, desta vez, a fala veio para comemorar um marco: Krenak se tornou o primeiro indígena a ser consagrado imortal pela Academia Brasileira de Letras (ABL).
Num país marcado por uma história complexa de colonização e marginalização de povos originários, a presença de Krenak na ABL ressoa como um símbolo de representatividade e inclusão, principalmente para as mais de 300 etnias indígenas brasileiras, as quais o ambientalista fez questão de enaltecer em seu discurso de posse:
Eu não sou mais do que um, mas posso invocar mais do que 300. Nesse caso, 305 povos, que nos últimos 30 anos passaram a ter disposição de dizer ‘estou aqui’. Sou Guarani, sou Xavante, sou Kayapó, sou Kayapó, sou Terena.
Vindas de Ailton Krenak, essas não são só palavras, mas um chamado à consciência coletiva, à valorização das raízes culturais que estão em terras brasileiras há séculos.
Com sua posse, o filósofo não apenas se torna parte integrante da história da Academia, como também marca um ponto de virada. Em 120 anos de existência, a ABL nunca antes havia visto um indígena ocupar uma de suas cadeiras. Assim, este é um momento não apenas histórico, mas profundamente significativo, com cocares colorindo o salão do Petit Trianon e chocalhos ressoando em comemoração.
O discurso, marcado pelo improviso e pela autenticidade que caracterizam Krenak, evidenciou seu dom com as palavras, bem como sua dedicação à causa indígena. Ao prometer lançar luz sobre as quase 200 línguas originárias do Brasil, ele, agora detentor da cadeira de número 5, reitera seu compromisso com a preservação e valorização da riqueza cultural do País.
Nos anima imaginar uma sociedade mais amorosa, muito mais cuidadora uns dos outros e que está aqui expressando uma disposição da cultura. Uma nação sem cultura não tem o que dizer.
Além de líderes indígenas, membros do governo, familiares e amigos de Krenak, a cerimônia contou com grandes nomes da produção cultural e intelectual do País, como Fernanda Montenegro, Gilberto Gil e a ministra da Cultura Margareth Menezes, que também compartilharam suas felicitações nas redes sociais.
Em suas palavras, Margareth Menezes compartilhou: “Essa posse do Ailton Krenak chegar à Academia Brasileira de Letras é de uma potência, porque representa — além do que ele já tem, todo o talento — traz também esse reflexo dessas 300 etnias brasileiras chegando na Academia”, ressaltando a magnitude e o simbolismo da conquista.
O caminho de Krenak
A trajetória do mais novo imortal é um testemunho de sua resiliência e comprometimento com a causa indígena. Nascido em Itabirinha, Minas Gerais, lar do povo Krenak, ele enfrentou as adversidades impostas pela atividade mineradora desde cedo.
Um de seus momentos mais marcantes foi o dia em que pintou o rosto com tinta preta de jenipapo, em protesto durante a Assembleia Nacional Constituinte de 1987, um gesto simbólico que ecoou pelo País. Autor de obras que transcendem fronteiras, com traduções em mais de dez países, Krenak é uma voz que ressoa globalmente em defesa da justiça social e ambiental.
De agora em diante, com a sua presença na ABL, podemos esperar que sua jornada seja o prelúdio de várias outras histórias a serem contadas e celebradas, refletindo a verdadeira essência da cultura brasileira em toda a sua diversidade e riqueza.
Fotos: Marcos Colón
Texto: Alice Palmeira
Edição: Isabella Galante
Direção: Marcos Colón