Pensamento latino-americano: rupturas para uma sociologia crítica cosmopolita

Em roda de conversa realizada na UFPA, convidados debatem reflexões sobre as similaridades das realidades nas grandes cidades da América Latina e Caribe

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Mesa Redonda "Pensamento latino americano: rupturas para uma sociologia crítica cosmopolita" com os professores José Vicente T. dos Santos, Ana Rivoir, Bruno Bringel, Jesús M. Díaz Segura e Adélia Miglievich Ribeiro.
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Mesa Redonda “Pensamento latino-americano: rupturas para uma sociologia crítica cosmopolita”, com os professores José Vicente, Jesús Díaz, Edna Castro, Adélia Miglievich, Ana Rivoir e Breno Bringel (ambos por videoconferência). Foto: Manuela André/Sialat

Na manhã desta quarta-feira (24), no Auditório Benedito Nunes da Universidade Federal do Pará (UFPA), a mesa-redonda Pensamento latino-americano: rupturas para uma sociologia crítica cosmopolita do V Sialat destacou a importância do pensamento crítico para a reflexão sobre as realidades latino-americanas, que comumente se entrelaçam nas grandes cidades e periferias modernas, à medida que suas populações lidam de perto com processos de marginalização.

O evento V Sialat traz ao debate inúmeras dimensões deste continente rico em história e multidiversidade, além de abordar os acontecimentos dos países da América Latina e Caribe com perspectivas diversas, na direção de entender a história dessa região e o conhecimento produzido pelos diferentes povos. Considera-se a pesquisa e o conhecimento produzidos nas universidades em interlocução com atores sociais.

Universidades públicas e a ciência na Amazônia

A Amazônia é objeto de estudo de pesquisadores do mundo todo, as universidades públicas são fundamentais aliadas na pesquisa e extensão. E as lideranças científicas da região devem ser ouvidas. Sendo assim, a ciência é efetivamente necessária para mudar a trajetória de desenvolvimento.

“Nos interessa produzir conhecimento sobre a realidade da Amazônia, não apenas do ponto de vista de relevância científica, e no que interessa a todas as nações, por conta da importância da Amazônia no clima global. Mas também, a partir das referências dos povos originários e tradicionais que aqui vivem. Nossa agenda de pesquisa não é idêntica a quem não cobre a Amazônia”, declara Emmanuel Zagury Tourinho, reitor da UFPA.

Sociologia crítica: decolonialidade e cosmopolitismo

A sociologia tem sido desafiada por configurações críticas, um instinto de pensamento, uma linguagem da modernidade, que passa a ter a responsabilidade de interpretar os processos de formação e mudanças da sociedade. “Ao mesmo tempo, a sociologia percebe diferentes processos de transformação hegemônicos ou contra-hegemônicos. Trata-se de passar sempre os problemas sociais, que são o povo que nos alimenta”, conta José Vicente, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e ex-presidente da Alas.

A professora Adélia Miglievich Ribeiro, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), e diretora da Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS), trouxe à tona a perspectiva do sociólogo Darcy Ribeiro, exilado durante a ditadura, que contribui para a pesquisa acerca do cosmopolitismo latino-americano. O estudioso observou que a colonização na América Latina gerou semelhanças e diferenças na formação das sociedades. Suas obras deslocam o foco da Europa para explicar essas configurações histórico-culturais.

A sociologia crítica moderna busca analisar como a população dessas áreas tem se organizado para romper com as estruturas de poder e retomar o conhecimento científico aliado aos tradicional. “O diálogo transgeracional nos permite pensar os desdobramentos que agora estão nas nossas mãos. […] Não somente para a América Latina e Caribe, mas para o ponto de vista histórico. Estamos aptos a contribuir com o cosmopolitismo”, afirma Adélia Ribeiro.

Breno Bringel, professor associado do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IES/UERJ), atual diretor do Alas, destacou que o itinerário inicial da discussão sobre a sociologia latino-americana estava centrado na ideia de recepção de ideias da sociologia europeia e norte-americana, especialmente no século XIX e na primeira metade do século XX. Segundo o pesquisador, a recepção não foi passiva nem acrítica na América Latina, mas influenciou a forma como os conceitos e ideias foram elaborados, problematizando os problemas regionais mais a partir da importação de conceitos do que da realidade local.

Em suma, a V Sialat destaca a relevância do pensamento crítico latino-americano para compreender e transformar as realidades sociais da região.

Produção: Andreza Dias
Edição: Isabella Galante e Alice Palmeira
Direção: Marcos Colón

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