Na Amazônia, ciência latina e caribenha são pauta no V Sialat

Com o tema 'multi sociodiversidade, pensamento crítico e utopias', o Seminário Internacional América Latina e Caribe ocorre na segunda metade de abril na Amazônia

V Sialat 5
Arte: divulgação
V Sialat 5

Arte: divulgação

Visando debater as temáticas emergentes nas conjunturas políticas, o 5º Seminário Internacional América Latina e Caribe: Conflitos e políticas contemporâneas (Sialat- Abya Yala), ocorre nos dias 24, 25 e 26 de abril de 2024, em Belém, no Pará, porta de entrada da Amazônia. O evento é promovido pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (Naea), em conjunto com outros Programas de Pós-Graduação da Universidade Federal do Pará (UFPA) e diversos parceiros nacionais e internacionais que têm em seus institutos ou centros latino-americanos e caribenhos um grande potencial de formação, pesquisa e produção científica.

O seminário teve sua primeira realização em 2015 e seguiu com edições em 2017, 2020 e 2021, de maneira remota devido à pandemia ocasionada pela Covid-19. Tendo desta vez uma programação dividida em duas, sendo a primeira parte em outubro de 2023, na qual foram debatidas e incorporadas temáticas atuais de alto impacto político, climático e econômico. A segunda está programada para abril de 2024, marcando a volta da edição presencial.

A realização terá lugar na UFPA, entre o auditório do centro de convenções Benedito Nunes, o auditório do Naea e o Núcleo de Práticas Jurídicas (NPJ).

O que representa o Sialat?

A professora Edna Castro, que atua no Naea, no Instituto de Filosofia e Ciência Humanas (IFCH), e é uma das responsáveis pelo evento, conta qual a importância de sua realização e representação principalmente para a Amazônia. “O Sialat se tornou o projeto de extensão mais importante dentre todos os nossos projetos. Assim, procuramos viabilizar os debates latino-americanos, das principais questões, dos desafios e dos dilemas que enfrentam a América Latina e o Caribe de uma perspectiva crítica. Nossa linha é de uma interpretação crítica, a partir dos povos da América Latina, daquilo que construiu nossa história que foi negada e silenciada ao longo dos séculos”, explica.

Ter no evento a oportunidade de mostrar todo o conhecimento que as regiões latinas e caribenhas podem produzir é uma das funções mais importantes, pois trata-se da valorização de uma ciência bastante rica. Segundo a professora, não é somente sobre estudar a América Latina, mas estudá-la sob uma compreensão de que a ciência e o conhecimento produzido nesses territórios foi negligenciado.

“Temos trabalhado muito o pensamento decolonial, porque ele faz parte do nosso pensamento crítico. Nosso interesse é também perceber o campo de conhecimento que é produzido nesse cenário que é a América Latina, de povos diversos, de línguas diversas, que têm pensamentos, ideias, cultura, música, tudo isso como suas raízes. Então as ciências sociais nos ajudam a entender. O campo de estudo do Sialat é o das humanidades. Mesmo que estejamos discutindo temas complexos e que exijam uma interdisciplinaridade maior, como as mudanças climáticas, temos consciência que nossa contribuição como ciência é de procurar entender a sociedade e os momentos que se vivem hoje na América Latina, os desafios e como as utopias são formuladas e alimentadas diante disso”, reflete.

América Latina em pauta

Tendo como ponto central o pensamento crítico, as utopias e a sociodiversidade, a quinta edição do evento busca ir além da compreensão da realidade social, como os diferentes povos projetam o futuro.

Os três dias de evento vão ser compostos por uma conferência, mesas redondas, oficinas e minicursos. Mas o que esperar das temáticas e subtemáticas envolvidas nessa edição? “Além da abertura, no dia 23, quando vamos ter o lançamento do livro Utopias Amazônicas, no decorrer dos três dias, contaremos com oito mesas redondas que terão como foco a democracia, a geopolítica, o racismo, as urgências climáticas, os direitos humanos, a defesa de território, entre outros. O interesse do Sialat é nós, do Brasil, falarmos de América Latina, mas com nossos colegas de outros países, termos um diálogo. Em todos os nossos eventos, buscamos trazer debates e diversidade”, diz Edna Castro.

Com mais de 430 trabalhos inscritos, entre apresentações, pesquisas e trabalhos completos, a expectativa é que mais de 600 pessoas sejam participantes, e somando os ouvintes, o número ultrapasse mil no decorrer da edição.

Amazônia no futuro

Uma das grandes conquistas do Sialat foi ser reconhecido pela Associação Latino Americana de Sociologia (Alas) como um evento pré-Alas, o congresso de Sociologia organizado pela associação.  Criado em 1950, a Alas foi a primeira organização regional da disciplina em nível global, e que tem como foco a luta por uma formação universitária que propõe a reflexão sociológica como área de desenvolvimento intelectual. Por isso, ter o reconhecimento e a visibilidade global de anteceder o congresso é significativo para o Sialat.

Algumas das principais metas do seminário são ter a atenção voltada para as pesquisas da região, demonstrar uma independência da ciência europeia, atestar a validade e importância dos pensamentos e questionamentos locais e reconhecimento dos espaços e das histórias.

“Nossa expectativa é com relação ao que pode ser gerado nos espaços de debates. Temos pessoas que vêm do Uruguai, da Argentina, da Bolívia, do Equador, da Colômbia e da República Dominicana. Então queremos despertar nos jovens, não só da Universidade Federal do Pará, mas do Brasil todo, o interesse por nossa América Latina, pelas outras realidades, o interesse de conhecimento”, explica a professora.

Falar de conhecimento com base nas múltiplas culturas é um dos maiores objetivos do Sialat. E para atingir isso, é necessário ter diversidade de vozes. Por isso, aqui estão alguns dos convidados que irão compor a programação desta 5ª edição:

Ailton Krenak – Ativista do movimento socioambiental e de defesa dos direitos indígenas. Organizou a Aliança dos Povos da Floresta, que reúne comunidades ribeirinhas e indígenas na Amazônia. É comendador da Ordem de Mérito Cultural da Presidência da República e doutor honoris causa pela Universidade Federal de Minas Gerais e pela Universidade Federal de Juiz de Fora.

José Angel Quintero Weir – Ativista intelectual indígena. Membro do povo Añuu. Professor do Departamento de Humanidades e Educação, na Universidad Autonóma Indigena de Zulia (Uain). Dedica-se há anos aos estudos indígenas na Venezuela.

Ana Laura Rivoir – Professora do Departamento de Sociologia da Universidade de la Republica de Uruguay/Udelar, onde coordena o grupo ObervaTIC. É ex-presidente da Associação Latinoamericana de Sociología (Alas). Possui estudos sobre as transformações experimentadas nas sociedades contemporâneas, em suas estruturas e processos sociais. Realiza conferências e cursos de pós-graduação em universidades e instituições acadêmicas nacionais e internacionais.

Francisco Reyes – Membro do corpo diretivo da Associação Colombiana de Sociologia. Professor da Universidade Nacional da Colômbia, da Universidade Santo Tomás, da Escola Superior de Administração Pública. Pesquisador de assuntos de conjuntura política, formação política, desenvolvimento regional, participação cidadã, educação ética e comportamento eleitoral.

Agustín Laó-Montes – Professor de Sociologia na Universidade de Massachusetts/Amherst, nos Estados Unidos, atuando no Centro de Estudos Latino-Americanos e Caribenhos, e professor no doutorado em Estudos Afro-Americanos na Colômbia. É ativista intelectual afrodescendente de origem porto-riquenha, doutor em Sociologia Histórica.

Programação

O Sialat convida a todas e todos que têm sede de conhecimento, que não se restringe ao científico, mas ao de uma realidade viva, como questionadores do futuro. O que podemos fazer por nosso futuro? Onde nos encaixamos nesse futuro? Assim, o evento propõe a pensar e a experienciar o conhecimento de uma Amazônia, de uma América Latina e de um Caribe vivos.

“Um seminário como esse fomenta muitas ideias, interesses e ajuda os alunos a se acharem na pesquisa, em achar temas de teses e de doutorados. É uma provocação para você reconhecer o potencial de saberes existentes na América Latina”, conclui Castro.

Os três dias de evento terão a seguinte programação de mesas-redondas:

24 de abril

8h30 às 10h30 – Auditório do Centro de Convenções Benedito Nunes
Democracia e conjuntura política na América Latina e Caribe
Moderadora: Edna Castro – Professora da UFPA
Expositores:
Bruno Bringel – Professor do Iesp/UERJ
Ana Rivoir – Professora da Udelar (Uruguai)
Adélia Miglievich Ribeiro – Professora da Ufes

10h30 às 12h30 – Auditório do Centro de Convenções Benedito Nunes
Pensamento latino-americano: rupturas para uma sociologia crítica cosmopolita
Moderadora: Edila Arnaud Moura – Professora da UFPA
Expositores:
José Vicente Tavares dos Santos – Professor da UFRGS
Ana Rivoir – Professora da Udelar (Uruguai)
Jesús M. Díaz Segura – Professor da Universidade de Santo Domingos (República Dominicana)
Edna Castro – Professora da UFPA

25 de abril

8h30 às 10h30 – Auditório do Naea
Territórios expropriados, violação de Direitos Humanos e estratégias jurídicas de garantias fundamentais: o conflito entre empresas da cadeia do dendê e comunidades na Amazônia paraense
Moderador: José Helder Benatti – Professor da UFPA
Expositores:
Paulo Sérgio Weyl – Professor da UFPA
Aianny Monteiro – Assessora do Ministério Público Agrário do estado do Pará
Manoel Andrade – Professor da UnB
Elielson Pereira da Silva – Pós-doutorando do Ufra

10h30 às 12h30 – Auditório do Naea
Urgências climáticas, agentes presentes no debate pré-COP 30 e perspectivas em conflito
Moderadora: Nirvia Ravena – Professora da UFPA
Expositores:
Leila Ferreira – Professora da Unicamp
Nils Edvin Asp Neto – Professor da UFPA
Marcela Vecchione – Professora da UFPA
Felipe Milanez – Professor da UFBA

14h às 16h – Auditório do Naea
Geopolítica, conflitos sociais e questões do desenvolvimento na América Latina: a agenda pública e
sociológica em debate
Moderador: Miguel Serna – Professor da Udelar (Uruguai)
Expositores:
Edna Castro – Professora da UFPA
Francisco Reyes – Membro do corpo diretivo da Associação Colombiana de Sociologia (Colômbia)
Marina Abrego – Presidenta Associação de Sociólogos Graduados da Universidade de Panamá (Panamá).
Eduardo Arroyo – Presidente Colégio de Sociólogos do Peru (Peru).

16h às 18h – Auditório do Naea
Sociedades en movimiento y defensa de la vida en Abya Yala – Experiencias altercomunicativas
Moderador: Andrés Felipe Ortiz Gordillo – Doutor pelo PPGSA/UFPA (Colômbia)
Expositores:
Gabriela Condori Laura – Red de la Diversidad (Bolívia)
Mónica Montalvo – La Sandía Digital (México)
Vilma Angelica Chuy – Consejo del Pueblo Maya CPO (Guatemala)
Diana Isabel Villalba Yate – Resguardo Indígena San Antonio de Calarma (Colômbia)
Andrés Tapia – Sacha, dirigente de Comunicação da Confeniae (Equador)

26 de abril

8h30 às 10h30 – Auditório do Naea
Racismo, racialização e pensamento decolonial na América Latina e Caribe
Moderador: Eunápio do Carmo – Professor da UFPA no campus de Breves
Expositores:
Zélia Amador – Professora Emérita da UFPA e coordenadora da Casa África-Brasil
Agustín Laó-Montes – Professor da Universidade de Massachusetts (EUA/Colômbia)
Flávia Silva dos Santos – Quilombola, doutoranda da UFPA e advogada da Mulungu
Sara Alonso – Professora do Máster da Universidade de Barcelona (Espanha)

10h30 às 12h30 – Auditório do Naea
Pensamento indígena, territórios e rupturas epistemológicas face às narrativas coloniais
Moderador: Marcos Colón – Professor da Universidade Estadual da Flórida (Estados Unidos)
Expositores:
Jane Beltrão – Professora emérita da UFPA
José Angel Quintero Weir – Professor da Universidad Autónoma Indigena de Zulia (Venezuela)
Bruno Malheiros – Professor da Unifesspa

Produção: Yris Soares
Edição: Isabella Galante
Direção: Marcos Colón

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