Na UFPA, V Sialat discute democracia e desenvolvimento na América Latina

Mesa Redonda "Democracia e conjuntura política na América Latina e Caribe".
Mesa Redonda "Democracia e conjuntura política na América Latina e Caribe" no V Sialat
Mesa Redonda "Democracia e conjuntura política na América Latina e Caribe".

Mesa redonda “Democracia e conjuntura política na América Latina e Caribe”, com os professores Edila Moura, Philip Fearnside, Luis Fernando Novoa e José Vicente dos Santos. Foto: Manuela André/Sialat

Os países que fazem parte da América Latina possuem uma grande diversidade dentro de seus ecossistemas políticos e socioculturais. No entanto, apresentam, também, desafios. Visando discutir para entender melhor esses contextos, foi realizada, nesta quarta-feira (24), a mesa redonda “Democracia e conjuntura política na América Latina”, durante o 5º Seminário Internacional América Latina e Caribe: Conflitos e políticas contemporâneas (Sialat – Abya Yala).

Proporcionando esclarecimentos e suscitando problemáticas proeminentes no contexto latino-americano, o momento foi mediado por Edila Moura, professora da Universidade Federal do Pará (UFPA) e diretora do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), e contou com a participação de Philip Fearnside, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Luis Fernando Novoa, professor da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), e José Vicente dos Santos, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

“Desastre é desastre, não desenvolvimento”

O professor Luis Fernando Novoa abordou a luta contra grandes projetos na Amazônia, especialmente as hidrelétricas, evidenciando preocupações ambientais e sociais acerca dessas construções, e estendendo sua crítica à ideia de que tais empreendimentos, apesar de serem apresentados como desenvolvimento, resultam, na verdade, em desastre para as comunidades locais e o meio ambiente.

Novoa discutiu também as dinâmicas e tramas políticas em torno desses projetos, destacando como governos foram capazes de aprovar grandes empreendimentos em troca de apoio político e econômico. Isso demonstra uma centralização do poder e subserviência aos interesses empresariais, com tentativas de manter a continuidade, mesmo diante de críticas e resistências.

O enfoque na busca pela governabilidade e na continuidade desses empreendimentos, ainda que impliquem impactos sociais e ambientais negativos, evidencia as contradições entre os discursos de desenvolvimento e as práticas políticas e econômicas na região e no País.

Além disso, Luis Fernando Novoa explicou as relações entre a concentração econômica e a falta de democracia, ressaltando como o modelo econômico vigente impede a descentralização e a diversidade política e cultural. A análise do professor, por fim, se estendeu ao contexto global, evidenciando como o Brasil se enquadra em um sistema que o subordina e o torna dependente, afetando não apenas o país, mas, por consequência, toda a América Latina.

Durante a sessão, o professor José Vicente dos Santos comentou sobre os desafios do Brasil e da América Latina, como as crises ambientais e ameaças às terras indígenas, em meio a discussões sobre o tipo de projeto de desenvolvimento social desejado. Existem claras tensões entre as diferentes visões de desenvolvimento, representadas pelo impulso por uma industrialização autônoma promovida pelo governo Lula, em contraste com uma postura mais conservadora e, em algum grau, autoritária adotada por líderes latino-americanos, por exemplo, o caso recente de Bolsonaro no Brasil.

“Uma questão que se coloca é a de que estamos em um processo evolutivo muito linear, no qual temos muitos matizes. Ou seja, uma seara de pensamentos e perspectivas. O que claramente se configurou no governo anterior foi uma proposta de um não liberalismo extrativista, militarizado e conservador com relação a, entre outras coisas, diversidade sexual. Digamos assim, houve toda uma criminalização de costumes sociais alternativos que são objetos de debate no mundo”, refletiu dos Santos.

José Vicente ressaltou a importância dos valores sociais e culturais serem considerados para a formulação de políticas e estratégias de desenvolvimento, e não apenas os aspectos socioeconômicos. O desafio não se restringe apenas a questões econômicas, mas também abrange o embate entre autoritarismo e liberdades democráticas, entre conservadorismo, tolerância e diversidade.

É evidente a necessidade de (re)conquistar um espaço de debate amplo e inclusivo, que contemple as diversas dimensões sociais e culturais, visando encontrar caminhos que promovam um desenvolvimento mais justo, sustentável e alinhado com os valores fundamentais da sociedade.

Texto: Marcelo Dias
Edição: Alice Palmeira
Revisão: Isabella Galante
Direção: Marcos Colón

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