Fotogaleria da Viagem ao Centro do Fogo: ciclo de estiagem e incêndios destrói a região
Uma Amazônia branca, cinza e vermelha. O verde se perdeu entre as queimadas e o tom barrento dos rios cede lugar à areia. O fotojornalista Edmar Barros nos leva com ele em uma viagem que nenhum de nós queria testemunhar em meio a destruição da Amazônia
Queimada durante a noite em Lábrea (AM), quarta-feira, 04 de setembro de 2024. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude
Maior reserva de água doce do planeta. Maior floresta tropical da Terra. Títulos pelos quais a Amazônia é reconhecida internacionalmente e que, agora, parecem não fazer mais sentido.
Apenas no estado do Amazonas, 330 mil pessoas sofrem os impactos da estiagem. A cidade de Rio preto da Eva, distante 80 quilômetros ao norte da capital, Manaus, começou a racionar a água que vem de um aquífero para que ela não se extinga completamente.
Todos os 62 municípios do Estado estão em situação de emergência devido à seca que isola comunidades, traz desabastecimento e estabelece uma relação cada vez mais próxima com a criminalidade.
No dia 5 de setembro, uma balsa que transportava alimentos foi saqueada após encalhar no Rio Madeira, na cidade de Manicoré, no Amazonas. Moradores do Distrito de Auxiliadora, seriam os responsáveis. Os invasores levaram trigo, óleo e ração. Também roubaram uma canoa e um motor.
Secas criam condições favoráveis aos desmatamentos e….
Dados do Boletim de Monitoramento Climático de Grandes Bacias Hidrográficas: Amazônia, publicado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) indicam que não há previsão de melhoras para os próximos dias e nem mesmo indicativos de quando a estiagem vai acabar.
É o que explica Renato Senna, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) e coordenador de hidrologia do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera (LBA/Inpa-MCTI).
Neste momento, os oceanos Atlântico e Pacífico, principais responsáveis pela determinação do comportamento das chuvas na região amazônica, se encontram mais próximos da neutralidade, ou seja, não indicam condições de melhora significativa nas chuvas. Assim, a expectativa é de que os grandes rios da região se mantenham em regime acelerado de descida nos próximos dias, podendo repetir cenas dramáticas vistas no ano de 2023”.
O pesquisador conta que fenômenos como o El Niño, que causa aquecimentos de águas nos oceanos Pacífico e Atlântico, também contribuem para redução das chuvas na Amazônia no período de dezembro de 2023 a abril de 2024, justamente, durante a estação chuvosa. E isso, afeta a cheia e vazante dos rios. O que “comprometeu a recarga dos rios e, assim, [gerou] uma cheia de pequenas proporções e, por consequência, uma seca severa novamente”.
Mas algo está claro: Estiagem e queimadas estão relacionadas em um ciclo de destruição que coloca a Amazônia em sua pior crise ambiental na história recente, como detalha o meteorologista Renato Senna:
Eventos de seca prolongada geram acúmulo de matéria seca junto ao solo da floresta, criando condições muito favoráveis aos eventos de incêndios e grandes queimadas, muitas vezes de origem criminosa”.
Por sua vez, as queimadas afetam as possibilidades de chuva, fechando um ciclo de devastação marcado pela ágil ação humana para a destruição da floresta e inércia para sua proteção.
…desmatamentos intensificam as secas
Uma pesquisa do Instituto de física da Universidade de São Paulo (USP) reforça como as queimadas afetam o surgimento de chuvas na Amazônia. Imagens de satélite registradas entre os anos de 2000 e 2014 foram usadas para estimar a temperatura e comportamento das particulas de água nas nuvens.
Os resultados mostram que a temperatura para o congelamento das nuvens na Amazônia depende de três fatores: umidificação da atmosfera, a presença de partículas de aerossol no ar e a incidência de radiação solar. As partículas lançadas no ar devido às queimadas que ocorrem majoritariamente entre agosto e outubro, interferem no processo, tornando a atmosfera mais estável, dificultando movimentos de massas de ar e limitando a altura e resfriamento das nuvens, o que causa redução de chuvas e aumento da incidência de raios solares no solo.
“A fumaça de queimadas contém uma quantidade gigantesca de partículas de aerossol que, também estando presentes na atmosfera, podem influenciar como as gotas de nuvens são formadas e o processo de congelamento subsequente”, aponta o autor do artigo, Alexandre Correia.
Diário do Inferno Amazônico: Edmar Barros
Dados do Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (Inpe), foram 38.266 focos de queimadas na Amazônia durante o mês de agosto. Em meio às chamas, a Secretaria de Segurança Pública do Governo do Estado do Amazonas (SSP-AM) afirma que 174 pessoas foram presas entre os meses de abril e setembro deste ano durante a Operação Tamoiotatá que chega à sua quarta fase. Até a terceria etapa da ação R$ 54 milhões em multas foram aplicadas para quem pratica crimes ambientais no Estado.
O fogo que destrói a floresta já afeta quem vive nas regiões urbanas. No começo do mês de setembro, a fumaça tomou conta do céu de Manaus. Uma massa de ar que veio do Sudoeste do país comprometeu a circulação de ar e alterou a direção dos ventos levando até a capital a contaminação do ar vinda das queimadas.
É nesse contexto que o fotojornalista Edmar Barros iniciou o projeto “Viagem ao centro do fogo”. Por nove dias, ele viajou de Manaus a Humaitá, no Amazonas, principalmente pela BR-319 e pela BR-230. Um caminho marcado pelo fogo, pela seca, pela fumaça, pelo isolamento e pelo desespero de quem mal pode respirar e não tem nem água para beber.
Uma realidade que não parece pertencer à Amazônia e que agora começa a ser divulgada pela Revista Amazônia Latitude em parceria com a Samauma em séries fotográficas diárias. Nos acompanhe no primeiro trecho da viagem de Manaus até Lábrea. São mais de 852 quilômetros tendo o fogo e a fumaça como companheiros:
Fotos: Edmar Barros
Texto: Glauce Monteiro
Montagem de Página: Alice Palmeira
Direção: Marcos Colón