Fotogaleria da Viagem ao Centro do Fogo: ciclo de estiagem e incêndios destrói a região

Uma Amazônia branca, cinza e vermelha. O verde se perdeu entre as queimadas e o tom barrento dos rios cede lugar à areia. O fotojornalista Edmar Barros nos leva com ele em uma viagem que nenhum de nós queria testemunhar em meio a destruição da Amazônia

Queimada atinge area da floresta Amazônica, na margem da BR-230 (Transamazônica), em Lábrea (AM), quarta-feira, 04 de setembro de 2024. Dados do INPE indicam que nesses quatro dias de setembro, já foram registrados 10.032 focos de queimadas no bioma Amazônico. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude
Queimada atinge area da floresta Amazônica, na margem da BR-230 (Transamazônica), em Lábrea (AM), quarta-feira, 04 de setembro de 2024. Dados do INPE indicam que nesses quatro dias de setembro, já foram registrados 10.032 focos de queimadas no bioma Amazônico. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude
Queimada atinge area da floresta Amazônica, na margem da BR-230 (Transamazônica), em Lábrea (AM), quarta-feira, 04 de setembro de 2024. Dados do INPE indicam que nesses quatro dias de setembro, já foram registrados 10.032 focos de queimadas no bioma Amazônico. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Queimada durante a noite em Lábrea (AM), quarta-feira, 04 de setembro de 2024. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Maior reserva de água doce do planeta. Maior floresta tropical da Terra. Títulos pelos quais a Amazônia é reconhecida internacionalmente e que, agora, parecem não fazer mais sentido.

Apenas no estado do Amazonas, 330 mil pessoas sofrem os impactos da estiagem. A cidade de Rio preto da Eva, distante 80 quilômetros ao norte da capital, Manaus, começou a racionar a água que vem de um aquífero para que ela não se extinga completamente. 

Todos os 62 municípios do Estado estão em situação de emergência devido à seca que isola comunidades, traz desabastecimento e estabelece uma relação cada vez mais próxima com a criminalidade.

No dia 5 de setembro, uma balsa que transportava alimentos foi saqueada após encalhar no Rio Madeira, na cidade de Manicoré, no Amazonas. Moradores do Distrito de Auxiliadora, seriam os responsáveis. Os invasores levaram trigo, óleo e ração. Também roubaram uma canoa e um motor.

Secas criam condições favoráveis aos desmatamentos e….

Dados do Boletim de Monitoramento Climático de Grandes Bacias Hidrográficas: Amazônia, publicado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) indicam que não há previsão de melhoras para os próximos dias e nem mesmo indicativos de quando a estiagem vai acabar

É o que explica Renato Senna, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) e coordenador de hidrologia do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera (LBA/Inpa-MCTI).

Neste momento, os oceanos Atlântico e Pacífico, principais responsáveis pela determinação do comportamento das chuvas na região amazônica, se encontram mais próximos da neutralidade, ou seja, não indicam condições de melhora significativa nas chuvas. Assim, a expectativa é de que os grandes rios da região se mantenham em regime acelerado de descida nos próximos dias, podendo repetir cenas dramáticas vistas no ano de 2023”.

O pesquisador conta que fenômenos como o El Niño, que causa aquecimentos de águas nos oceanos Pacífico e Atlântico, também contribuem para redução das chuvas na Amazônia no período de dezembro de 2023 a abril de 2024, justamente, durante a estação chuvosa. E isso, afeta a cheia e vazante dos rios. O que “comprometeu a recarga dos rios e, assim, [gerou] uma cheia de pequenas proporções e, por consequência, uma seca severa novamente”.

Mas algo está claro: Estiagem e queimadas estão relacionadas em um ciclo de destruição que coloca a Amazônia em sua pior crise ambiental na história recente, como detalha o meteorologista Renato Senna:

Eventos de seca prolongada geram acúmulo de matéria seca junto ao solo da floresta, criando condições muito favoráveis aos eventos de incêndios e grandes queimadas, muitas vezes de origem criminosa”.

Por sua vez, as queimadas afetam as possibilidades de chuva, fechando um ciclo de devastação marcado pela ágil ação humana para a destruição da floresta e inércia para sua proteção. 

…desmatamentos intensificam as secas

Uma pesquisa do Instituto de física da Universidade de São Paulo (USP) reforça como as queimadas afetam o surgimento de chuvas na Amazônia. Imagens de satélite registradas entre os anos de 2000 e 2014 foram usadas para estimar a temperatura e comportamento das particulas de água nas nuvens.  

Os resultados mostram que a temperatura para o congelamento das nuvens na Amazônia depende de três fatores: umidificação da atmosfera, a presença de partículas de aerossol no ar e a incidência de radiação solar. As partículas lançadas no ar devido às queimadas que ocorrem majoritariamente entre agosto e outubro, interferem no processo, tornando a atmosfera mais estável, dificultando movimentos de massas de ar e limitando a altura e resfriamento das nuvens, o que causa redução de chuvas e aumento da incidência de raios solares no solo.

“A fumaça de queimadas contém uma quantidade gigantesca de partículas de aerossol que, também estando presentes na atmosfera, podem influenciar como as gotas de nuvens são formadas e o processo de congelamento subsequente”, aponta o autor do artigo, Alexandre Correia.

Diário do Inferno Amazônico: Edmar Barros

Dados do Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (Inpe), foram 38.266 focos de queimadas na Amazônia durante o mês de agosto. Em meio às chamas, a Secretaria de Segurança Pública do Governo do Estado do Amazonas (SSP-AM) afirma que 174 pessoas foram presas entre os meses de abril e setembro deste ano durante a Operação Tamoiotatá que chega à sua quarta fase. Até a terceria etapa da ação R$ 54 milhões em multas foram aplicadas para quem pratica crimes ambientais no Estado. 

O fogo que destrói a floresta já afeta quem vive nas regiões urbanas. No começo do mês de setembro, a fumaça tomou conta do céu de Manaus. Uma massa de ar que veio do Sudoeste do país comprometeu a circulação de ar e alterou a direção dos ventos levando até a capital a contaminação do ar vinda das queimadas.

É nesse contexto que o fotojornalista Edmar Barros iniciou o projeto “Viagem ao centro do fogo”. Por nove dias, ele viajou de Manaus a Humaitá, no Amazonas, principalmente pela BR-319 e pela BR-230. Um caminho marcado pelo fogo, pela seca, pela fumaça, pelo isolamento e pelo desespero de quem mal pode respirar e não tem nem água para beber.

Uma realidade que não parece pertencer à Amazônia e que agora começa a ser divulgada pela Revista Amazônia Latitude em parceria com a Samauma em séries fotográficas diárias. Nos acompanhe no primeiro trecho da viagem de Manaus até Lábrea. São mais de 852 quilômetros tendo o fogo e a fumaça como companheiros:

Caminhão transporta toras de madeira, pela BR-319, próximo da cidade de Humaitá (AM), terça-feira, 03 de setembro de 2024. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Caminhão transporta toras de madeira, pela BR-319, próximo da cidade de Humaitá (AM), terça-feira, 03 de setembro de 2024. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Pequeno Barco, navega no rio Madeira, sob forte fumaça vinda de queimadas da floresta Amazônica, em Humaitá (AM), quarta-feira, 04 de setembro de 2024. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Pequeno barco navega no rio Madeira sob forte fumaça vinda de queimadas da floresta Amazônica, em Humaitá (AM), quarta-feira, 04 de setembro de 2024. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Homem caminha pela BR-230 (Transamazônica), em meio à fumaça de queimadas na floresta Amazônica, em Lábrea (AM), quarta-feira, 04 de setembro de 2024. Dados do INPE apontam que nos quatro primeiros dias de setembro, já foram registradas 10.032 focos de queimadas no bioma Amazônico. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Homem caminha em meio à fumaça de queimadas na floresta Amazônica, quarta-feira, 04 de setembro de 2024. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Trecho do rio Madeira, afetado pela maior seca da história, próximo da cidade de Humaitá (AM), quarta-feira, 04 de setembro de 2024. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Trecho do rio Madeira afetado pela maior seca da história, próximo da cidade de Humaitá (AM), quarta-feira, 04 de setembro de 2024. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Queimada atinge área da floresta Amazônica, na margem da BR-230 (Transamazônica), próximo da cidade de Humaitá (AM), quarta-feira, 04 de setembro de 2024. Dados do INPE indicam que nesses quatro dias de setembro, já foram registrados 10.032 focos de incêndios no bioma Amazônico. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Queimada atinge área da floresta Amazônica próximo da cidade de Humaitá (AM), quarta-feira, 04 de setembro de 2024. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Queimada atinge area da floresta Amazônica, na margem da BR-230 (Transamazônica), em Lábrea (AM), quarta-feira, 04 de setembro de 2024. Dados do INPE indicam que nesses quatro dias de setembro, já foram registrados 10.032 focos de queimadas no bioma Amazônico. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Dados do INPE indicam que nesses quatro dias de setembro, já foram registrados mais de 100 mil focos de queimadas no bioma Amazônico. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Área da floresta Amazônica é vista desmatada e queimada, na margem da BR-230 (Transamazônica), próximo da cidade de Humaitá (AM), quarta-feira, 04 de setembro de 2024. Dados do INPE indicam que nesses quatro dias de setembro, já foram registrados 10.032 focos de queimadas no bioma Amazônico. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Área da floresta Amazônica desmatada e queimada próximo da cidade de Humaitá (AM), quarta-feira, 04 de setembro de 2024. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Queimada atinge área da floresta Amazônica em Lábrea (AM), quarta-feira, 04 de setembro de 2024. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Queimada atinge área da floresta Amazônica no Amazonas. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Gado é visto em área de pasto encoberta pela fumaça de queimadas florestais, na margem da BR-230 (Transamazônica), próximo da cidade de Lábrea (AM). Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Gado é visto em área de pasto encoberta pela fumaça de queimadas florestais, na margem da BR-230 (Transamazônica), próximo da cidade de Lábrea (AM). Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Barco navega no rio Purus, com grande quantidade de fumaça de queimadas na floresta Amazônica, no dia da Amazônia, em Lábrea (AM), quinta-feira, 05 de setembro de 2024. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Barco navega no rio Purus, com grande quantidade de fumaça de queimadas na floresta Amazônica, no dia da Amazônia, em Lábrea (AM), quinta-feira, 05 de setembro de 2024. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

No dia da Amazônia, 5 de setembro, a cidade de Lábrea, amanheceu com a pior qualidade do ar do Brasil. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

No dia da Amazônia, 5 de setembro, a cidade de Lábrea, amanheceu com a pior qualidade do ar do Brasil. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Homem observa a forte fumaça de queimadas que encobre o rio Purus. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Homem observa a forte fumaça de queimadas que encobre o rio Purus. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Menina caminha com sua mãe e se protege com uma toalha da densa fumaça. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Menina caminha com sua mãe e se protege com uma toalha da densa fumaça. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Indígena do Povo Apurinã, Antônia Rosângela Campos (44), tenta fazer inalação somente com água, devido a dificuldade em comprar o soro fisiológico. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Indígena do Povo Apurinã, Antônia Rosângela Campos (44), tenta fazer inalação somente com água, devido a dificuldade em comprar o soro fisiológico. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Moradores de Lábrea usam máscaras para se proteger da grande quantidade de fumaça vinda das queimadas na floresta. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Moradores de Lábrea usam máscaras para se proteger da grande quantidade de fumaça vinda das queimadas na floresta. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Coruja envolta por uma grande quantidade de fumaça vinda das queimadas na floresta Amazônica, em Lábrea. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Coruja envolta por uma grande quantidade de fumaça vinda das queimadas na floresta Amazônica, em Lábrea. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

A ribeirinha Sandra Gomes recebe um abraço de sua filha, durante a seca recorde do rio Madeira, na comunidade Paraizinho, em Humaitá (AM), sábado, 07 de setembro de 2024. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

A ribeirinha Sandra Gomes recebe um abraço de sua filha, durante a seca recorde do rio Madeira, na comunidade Paraizinho, em Humaitá (AM), sábado, 07 de setembro de 2024. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Crianças empurrando um carrinho para carregar água, no leito seco do rio Madeira, durante a maior estiagem da história, na comunidade Paraizinho, em Humaitá (AM), sábado, 07 de setembro de 2024. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Crianças empurrando um carrinho para carregar água, no leito seco do rio Madeira, durante a maior estiagem da história, na comunidade Paraizinho, em Humaitá (AM), sábado, 07 de setembro de 2024. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

O agricultor, Reis Santo Vieira (69), pinta uma canoa, no leito seco do rio Madeira. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

O agricultor, Reis Santo Vieira (69), pinta uma canoa, no leito seco do rio Madeira. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Ribeirinhos afetados pela maior seca da história abastecem caixas d'água com água potável, na comunidade Paraizinho. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Ribeirinhos afetados pela maior seca da história abastecem caixas d’água com água potável, na comunidade Paraizinho. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Ribeirinhos navegam  com carregamentos de água potável para abastecer moradores da comunidade Paraizinho durante a pior seca da história na região. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Ribeirinhos navegam com carregamentos de água potável para abastecer moradores da comunidade Paraizinho durante a pior seca da história na região. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

O ribeirinho e líder comunitário João Mendonça, junto de  outros ribeirinhos, carrega garrafões com água potável, para ajudar outros moradores afetados pela maior seca da história do rio Madeira. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

O ribeirinho e líder comunitário João Mendonça, junto de outros ribeirinhos, carrega garrafões com água potável, para ajudar outros moradores afetados pela maior seca da história do rio Madeira. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Crianças observam o leito seco do rio Madeira durante a maior estiagem da história. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Crianças observam o leito seco do rio Madeira durante a maior estiagem da história. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Os moradores de diversas comunidades ribeirinhas da Amazônia, estão sofrendo com a falta de água potável e escassez de alimentos causados pela seca. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Os moradores de diversas comunidades ribeirinhas da Amazônia, estão sofrendo com a falta de água potável e escassez de alimentos causados pela seca. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Queimada atinge área da floresta Amazônica, na margem da BR-319, próximo da cidade de Humaitá. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Queimada atinge área da floresta Amazônica, na margem da BR-319, próximo da cidade de Humaitá. Foto: Edmar Barros / Amazônia Latitude

Fotos: Edmar Barros
Texto: Glauce Monteiro
Montagem de Página: Alice Palmeira
Direção: Marcos Colón

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