O acervo indígena encerrado no filme Tesouro Natterer, de Renato Barbieri

O documentário exalta a expedição de Johann Natterer, mas evita discutir a restituição das peças indígenas e suas implicações para os povos espoliados

Professor e político paraense Hans Kaba Munduruku, na Áustria, visitando o Museu do Mundo de Viena. Foto: Divulgação.
Professor e político paraense Hans Kaba Munduruku, na Áustria, visitando o Museu do Mundo de Viena. Foto: Divulgação.
Professor e político paraense Hans Kaba Munduruku, na Áustria, visitando o Museu do Mundo de Viena. Foto: Divulgação.

Professor e político paraense Hans Kaba Munduruku, na Áustria, visitando o Museu do Mundo de Viena. Foto: Divulgação.

O documentário Tesouro Natterer (2023), de Renato Barbieri, explora a expedição de Johann Natterer (1787-1843), naturalista austríaco que, no século XIX, enviou à Áustria o maior acervo etnográfico dos povos indígenas do Brasil. Ao exaltar os feitos do naturalista e a coleção que reuniu, o filme evita o debate sobre a restituição das peças indígenas e suas implicações para os povos espoliados.

O filme começa com o professor e político paraense Hans Kaba Munduruku, na Áustria, visitando o Museu do Mundo de Viena, onde está a maior coleção de artefatos de povos originários brasileiros, especialmente da região amazônica, datados das primeiras décadas do século XIX. Durante as boas-vindas, o professor Munduruku agradece à curadora da Coleção da América do Sul pela preservação dos bens culturais de seus ancestrais, afirmando que “se fosse no Brasil já tinham sumido”.

Em seguida, o documentário exibe imagens do incêndio que destruiu o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, em setembro de 2018. Até então, essa instituição era considerada um dos maiores museus de História Natural e Antropologia das Américas.

O filme introduz, desse modo, uma das polêmicas centrais do debate sobre a devolução de coleções levadas das antigas colônias por países colonizadores: o argumento de que os países de origem dos objetos podem não estar preparados para preservá-los e expô-los adequadamente. Ao mostrar o incêndio no Museu Nacional, Barbieri abre e encerra a problemática sugerida, sem quaisquer desenvolvimentos.

Ainda no prólogo do documentário, Hans Kaba é levado ao Departamento da América do Sul do Museu do Mundo de Viena, depósito do acervo etnográfico da região, que se estende da Colômbia à Terra do Fogo. Segundo a curadora e antropóloga Claudia Augustat, a coleção brasileira – o maior e mais antigo conjunto etnográfico do Brasil fora do país – reúne um total de 5000 peças, das quais 2300 pertencem a 68 etnias indígenas, sendo 200 dos Munduruku.

Os itens estão em perfeito estado de conservação, armazenados em grandes armários de aço. De dentro das gavetas desses armários, Claudia Augustat seleciona alguns objetos Munduruku para mostrar a Hans Kaba. Visivelmente emocionado, o professor reconhece a antiguidade dos artefatos e diz que eles só existem no museu. Diante de sua emoção, Claudia comenta que a coleção contém inúmeras peças e afirma acreditar “que podem doar algumas”. Hans concorda com a curadora, destacando que esses bens deveriam ser enviados às comunidades Munduruku, “para estarem bem perto e para que a gente possa produzir novos, segundo estes aqui”.

Entre os objetos apresentados, destaca-se uma impressionante trombeta, que também existe apenas no Museu do Mundo de Viena e que Hans faz soar quase dois séculos depois de ter sido guardada ali. O retorno desse instrumento, assim como o dos demais itens, contribuiria para a revitalização das culturas indígenas, além de representar um ato de reconhecimento das violações históricas sofridas por esses povos. Contudo, essa problemática não é abordada no documentário Tesouro Natterer.

As implicações da restituição de obras retiradas durante o colonialismo europeu têm sido cada vez mais debatidas, alimentando um movimento global de conscientização sobre a responsabilidade ética dos países europeus na devolução desses bens. Esse movimento já resultou na repatriação de diversas peças, como testemunha o mais recente filme da diretora franco-senegalesa Mati Diop, Dahomey (2024), que explora, de forma simbólica e política, o regresso de vinte seis obras de arte do Reino do Daomé ao Benim, de onde foram retiradas pela França em 1892.

O Museu do Mundo de Viena também abriga obras de arte dessa região, incluindo os bronzes de Benin – placas e esculturas de metal do século XVI que retratam cenas da vida na corte, rituais e aspectos históricos desse reino africano. Estas peças fazem parte de uma ampla coleção de artefatos não europeus reunidos por exploradores, marinheiros, comerciantes e cientistas ao longo do período colonial austríaco.

A coleção de Natterer: um legado científico e cultural desconhecido no Brasil

A coleção de artefatos indígenas reunida na Áustria faz parte do vasto acervo que Natterer coletou ao longo dos dezoito anos que permaneceu no Brasil. Foto: Divulgação.

A coleção de artefatos indígenas reunida na Áustria faz parte do vasto acervo que Natterer coletou ao longo dos dezoito anos que permaneceu no Brasil. Foto: Divulgação.

O documentário de Renato Barbieri oferece, sobretudo, a oportunidade de compreender a magnitude da coleção de Natterer e conhecer alguns dos itens que a compõem, com destaque para os exemplares de animais, que são os mais presentes no filme.

O naturalista integrou a Expedição Austríaca de 1817, que chegou ao Brasil na comitiva da Arquiduquesa Leopoldina Francisca de Habsburgo-Lorena (1797-1826), futura esposa do Imperador Dom Pedro I. A coleção de artefatos indígenas reunida na Áustria faz parte do vasto acervo que Natterer coletou ao longo dos dezoito anos que permaneceu no Brasil, após se separar da expedição inicial, que retornou à Áustria por ocasião da declaração da Independência do Brasil.

A missão de Natterer enquadra-se no que se pode classificar de “corrida científica”, vivenciada pelas colônias europeias durante o final do século XVIII e início do XIX, cujo objetivo era mapear os territórios ocupados, identificar os povos originários e coletar bens culturais, além de exemplares da fauna e flora nativas. No Brasil, há registros de diversas expedições realizadas nesse período. Estas iniciativas, geralmente grandes empreendimentos, não apenas contribuíam para produção de conhecimento, mas também ampliavam as coleções de museus e instituições científicas dos países europeus. Financiadas pelas cortes e pelos governos das metrópoles, essas expedições cruzaram vastas áreas pouco exploradas, atendendo tanto a interesses comerciais, quanto aos anseios políticos de ampliar e consolidar o domínio imperial.

O legado científico e cultural de Natterer, recolhido no Brasil, está distribuído entre os museus do Mundo e o de História Natural de Viena, e contém espécimes naturais, como flora, fauna, minerais, rochas, vermes humanos, além de objetos etnográficos. Quanto ao acervo indígena, ele reúne ainda itens dos Baniwa, Sateré-Mawé, Bororo, Makuna, Macuxi e Apiaká, entre outros povos, alguns dos quais extintos. Na opinião do biógrafo de Johann Natterer, Kurt Schmutzer, “esse é um enorme tesouro (…) não somente para o Museu do Mundo de Viena, mas também para todos os grupos indígenas representados nessa coleção”.

Durante a sua estadia no país, Natterer também se dedicou à elaboração de listas de palavras das línguas indígenas de 62 grupos étnicos. Em um artigo publicado na Revista Brasileira de Linguística Antropológica, os pesquisadores Willem F.H. Adelaar e Hélène B. Brijnen, da Universidade de Leiden, nos Países Baixos, afirmam que, para muitas das línguas contidas nessa coleta, incluindo línguas amazônicas, as listas de palavras de Natterer constituem os registros mais antigos conhecidos. Esses materiais estão acompanhados de observações etnográficas, com indicação do local de origem dos grupos em questão. Os pesquisadores estão trabalhando na transcrição e publicação desses dados linguísticos, que ficaram extraviados por muito tempo e atualmente estão conservados na Biblioteca da Universidade de Basel, na Suíça, onde foram digitalizados.

Todo o conjunto de bens e informação linguística da coleção de Natterer tem grande valor simbólico e é parte essencial da identidade cultural e histórica das sociedades indígenas, algumas delas extintas, como já foi mencionado. Trata-se, portanto, de um trabalho pouco conhecido no Brasil e de um acervo que nunca foi exposto em território nacional. A única apresentação relacionada ocorreu por meio de uma exposição composta por 130 fotografias das peças da coleção, realizadas pelo fotógrafo espanhol radicado no Brasil, Juan Pratginestós. A mostra foi exibida pela primeira vez em outubro de 1996, na Universidade de Brasília, e, no mês seguinte, na Biblioteca Pública do Estado do Amazonas, em Manaus.

O explorador europeu no Brasil do século XIX: entre o fascínio e a controvérsia

No filme, Kurt Schmutzer refaz o itinerário percorrido pelo naturalista há pouco mais de 200 anos. O biógrafo é o autor do livro Por amor à História Natural – as viagens de Johann Natterer no Brasil, 1817 a 1835, elaborado com base na análise das cartas e anotações de Natterer, que representam as únicas fontes de informação conhecidas sobre seu trabalho. Diferentemente de outros viajantes de sua época, o explorador não deixou relatos ou diários de viagem, uma prática comum nesse tipo de expedição.

A narrativa do documentário é construída, essencialmente, a partir dos depoimentos do biógrafo, assim como da recriação da narração do próprio Natterer, que reproduz trechos das cartas que ele escreveu a seus superiores e, especialmente, a seu irmão Joseph Natterer, também zoólogo no Gabinete de História Natural em Viena. O filme incorpora ainda excertos de entrevistas com historiadores e pesquisadores brasileiros, que oferecem uma visão detalhada sobre o contexto político e os acontecimentos históricos que impactaram a viagem. Para mostrar situações e alguns dos locais visitados pelo explorador, Barbieri utiliza animações, ilustrações produzidas pelos desenhistas que integravam a expedição e aquarelas da autoria do próprio naturalista.

Grande parte da duração do documentário é dedicada à reconstituição do mapeamento cronológico da estadia do naturalista, que teve início no Rio de Janeiro e terminou em Belém, percorrendo várias regiões do Brasil. Com essa abordagem, Tesouro Natterer transforma-se em um filme de estrada que enaltece, acima de tudo, a jornada do explorador, elevando-o à condição de grande herói aventureiro.

Essa escolha de foco temático evidencia o fascínio do diretor por seu personagem, frequentemente descrito por Barbieri, em entrevistas à mídia, como uma espécie de “Indiana Jones”. Segundo o cineasta, ao longo dos dezoito anos passados no Brasil, Natterer enfrentou “desafiantes questões de logística, convulsões sociais e doenças tropicais desconhecidas, que levaram ele e sua equipe a extremos de sobrevivência”. Como resultado dessas provações, o diretor acredita que o explorador se humanizou, “superando, em parte, pensamentos supremacistas eurocêntricos”.

No entanto, essas declarações do cineasta não correspondem ao que é mostrado no filme; alinham-se mais às narrativas romantizadas dos séculos XVIII e XIX, que frequentemente atribuíram mudanças radicais aos exploradores ou visitantes europeus nos territórios colonizados. No caso de Natterer, o diretor reforça essa visão ao destacar o casamento do austríaco com Maria do Rego – mulher indígena com quem constituiu família – apresentando essa união como evidência de um suposto abandono da ideia de superioridade de homem branco europeu.

Se houve tal transformação, o filme não a explica de forma convincente. Pelo contrário, o documentário inclui informações contraditórias, como o trecho de uma das cartas enviadas por Natterer ao irmão, já próximo ao término de sua viagem. Nessa carta, o naturalista reafirma o seu ‘patriotismo científico’, afirmando que permanecia em “tão rica capitania” apenas “pela única razão de querer tornar o Museu Imperial o mais rico possível”.

Sem uma reflexão mais profunda sobre a relação entre colonialismo, ciência e exploração humana e desconsiderando o impacto das ações de Natterer sobre as populações locais, o documentário revela muito pouco sobre os trabalhadores nativos da expedição. Segundo o depoimento da historiadora e professora Maria de Fátima Costa, da Universidade Federal do Mato Grosso, esses trabalhadores eram negros escravizados ou libertos, mestiços e indígenas, sendo remunerados com “roupa e pinga”.

Em um depoimento filmado no Cais do Valongo, no Rio de Janeiro – principal porto de entrada e comércio de africanos escravizados nas Américas -, Kurt Schmutzer enquadra a aquisição de pessoas escravizadas para trabalharem na expedição de Natterer como algo “usual no Brasil” da época, argumentando que o explorador agiu como “um homem do seu tempo”, embora o próprio biógrafo reconheça, na mesma declaração, que muitos contemporâneos de Natterer se opunham a esse tipo de comércio.

Como tentativa de atenuar a postura do naturalista, o filme apresenta, em seguida, o relato do biógrafo sobre um dos escravizados que acompanhou Natterer, um homem que recebeu formação como taxidermista e foi alforriado pelo naturalista antes de seu retorno à Europa.

A ausência de discussão sobre os bens culturais indígenas

O cineasta Renato Barbieri, diretor de Tesouro Natterer, quer provocar o debate sobre o retorno do acervo ao Brasil. Foto Supremo Tribunal de Justiça.

O cineasta Renato Barbieri, diretor de Tesouro Natterer, quer provocar o debate sobre o retorno do acervo ao Brasil. Foto Supremo Tribunal de Justiça.

As informações sobre se a apropriação dos objetos indígenas reunidos pelo naturalista foi eticamente correta ou se constituiu pilhagem cultural são neutralizadas pelo depoimento da professora Fátima Costa, que indica que os itens foram obtidos por meio de trocas de mercadorias. A historiadora destaca que, naquela época, especialmente no interior do Brasil, o dinheiro tinha circulação muito limitada, e o escambo – transações realizadas sem o uso de moeda – era a prática mais comum. Essa informação dificulta, de certo modo, o debate sobre a eventual obrigação de sua devolução ao país de origem.

Sobre essa problemática, não há, no documentário, nenhum especialista convidado para a discutir a questão. Causa estranheza, também, o fato de o acervo sequer ser mencionado durante a conversa com os caciques da aldeia Aldeia Katô, no Rio Tapajós, no Pará. Os caciques se dedicam a relatar as ameaças que seu território enfrenta, destacando a contaminação dos rios e a destruição da floresta pelo garimpo ilegal.

Essa preocupação é compreensível, pois, em 2019, no período das filmagens, houve um agravamento desse flagelo, que há anos afeta a região e continua ameaçando sua existência, apesar das recentes ações de fiscalização e destruição das explorações ilegais. No entanto, a urgência em denunciar essas invasões não justifica a ausência da discussão sobre a importância do acervo etnográfico dos Munduruku.

Assim, perde-se a oportunidade de conhecer a opinião dos próprios indígenas sobre a retirada dos bens culturais de seus ancestrais durante o período da colonização. Esse seria o momento e o lugar propícios para explorar a relevância da restituição das antigas peças indígenas para a comunidade local e ampliar a presença das vozes indígenas no documentário.

O documentário menciona brevemente esse assunto no início e o retoma nos oito minutos finais, por meio das falas da curadora Claudia Augustat e do professor Hans Kaba Munduruku. Por essa razão, permanece a dúvida sobre a intenção de Renato Barbieri: teria ele realmente desejado abordar a questão da devolução dos artefatos indígenas às suas comunidades de origem ou, alternativamente, a instituições de seus países, para que esses povos tivessem esses bens mais próximos?

Tal como apresentada no filme, a questão se configura como um elemento atrativo, utilizado para impulsionar o impacto do documentário. De fato, a associação do longa-metragem ao debate sobre a restituição dos bens culturais tem sido fundamental para sua promoção, seja nas entrevistas do diretor, seja em algumas resenhas, que destacam esta temática como o eixo central da narrativa.

Em uma entrevista concedida ao jornalista Kiko Mollica do Canal Brasil, em abril do ano passado, Renato Barbieri mencionou “uma grande articulação” surgida a partir do filme, que serviria como “pontapé inicial para que parte dessas peças sejam repatriadas”. Na ocasião, o diretor anunciou que pretendia contatar o Ministério das Relações Exteriores, o Ministério dos Povos Indígenas e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, com o objetivo de viabilizar “um acordo operacional” entre essas instituições e os museus e entidades austríacas.

A restituição dos bens culturais, intelectuais, religiosos e espirituais dos povos indígenas – quando adquiridos sem seu consentimento livre, prévio e informado ou em violação de suas leis, tradições e costumes – é um direito reconhecido no artigo 11 da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas. Este artigo estabelece que “os Estados deverão proporcionar a reparação por meio de mecanismos eficazes, que poderão incluir a restituição, estabelecidos conjuntamente com os povos indígenas”.

Essa questão tem se tornado cada vez mais relevante, à medida que países e instituições recebem pedidos de restituição de bens culturais, impulsionando debates sobre justiça histórica e ética global. A devolução desse tipo de patrimônio aos países de origem envolve frequentemente processos legais complexos e negociações diplomáticas. Um exemplo disso foi o acordo entre Brasil e Dinamarca, que resultou na restituição de um dos mantos sagrados preservados em museus europeus.

Segundo Joenia Wapichana, o retorno do Manto Tupinambá é “motivo de alegria (…) para todos os povos indígenas do Brasil. Foto: Ricardo Stuckert / PR.

Segundo Joenia Wapichana, o retorno do Manto Tupinambá é “motivo de alegria (…) para todos os povos indígenas do Brasil. Foto: Ricardo Stuckert / PR.

Após mais de 300 anos guardado no Museu Nacional da Dinamarca, o Manto Tupinambá finalmente retornou ao Brasil em julho do ano passado. Meses após a restituição, o povo Tupinambá de Olivença, comunidade indígena do interior da Bahia, reencontrou-se com o seu Manto Ancestral em uma cerimônia oficial realizada no Rio de Janeiro.

Na ocasião, a presidenta da Funai, Joenia Wapichana, declarou que o retorno do Manto Tupinambá era “motivo de alegria (…) para todos os povos indígenas do Brasil. A repatriação é importante para o nosso país, a repatriação é uma reparação de dívidas com os povos indígenas, porque traz de volta a fortaleza, a intensidade, a cultura”.

Atualmente sob a guarda do Museu Nacional, o manto é reivindicado pelo povo Tupinambá, que defende seu retorno ao território originário e a criação de um museu para abrigá-lo.

A restituição de bens culturais vai além de um gesto simbólico. Neste contexto, vale mencionar Nego Bispo, Antônio Bispo dos Santos (1959-2023), que deixou um legado na defesa dos povos afro-pindorâmicos – descendentes africanos e indígenas. Nego Bispo, intelectual, quilombola e mestre dos saberes tradicionais defendia que não há como avançar nos direitos desses povos sem adotar uma abordagem verdadeiramente contra-colonial. Para isso, é essencial questionar, com coragem e ética, as consequências do colonialismo e contribuir para o desmonte das estruturas coloniais ainda presentes.

Em Tesouro Natterer, a problemática da apropriação dos bens culturais indígenas permanece encerrada na perspectiva eurocêntrica. O filme não adota uma abordagem contra-colonial, na qual a devolução do acervo seja representada como ato de fundamental para a preservação da identidade e da memória coletiva dos povos originais.

Afirmar que essa problemática ocupa um lugar central no filme pode ser um indício do que se gostaria de ver na tela, mas não é o que a obra realmente entrega.

Capa Tesouro Natterer (2023)

Tesouro Natterer (2023)

Documentário

Duração: 1 hora e 24 minutos

Direção: Renato Barbieri

Roteiro: Renato Barbieri, Neto Borges e Rodrigo Borges

Idioma: Português e Inglês

Produção: GAYA Filmes

Outras informações aqui.

Anabela Roque dedica-se a pesquisar e estudar o cinema da América Latina, com foco na produção cinematográfica brasileira. Antes trabalhou na área do audiovisual, na programação de canais de televisão, entre 1999 e 2013. Estudou Jornalismo no CENJOR, Centro de formação profissional de jornalista, em Lisboa. Também estudou Realização Cinematográfica no Rio de Janeiro, na Academia Internacional de Cinema e estreou-se como realizadora com a curta-metragem, ‘Piano forte’ (2017). O documentário, que fez parte da selecção oficial do 26ºArizona International Film Festival Arizona (EUA) foi exibido em vários festivais e recebeu os prémios de melhor filme na 6ªMostra Corsária do 24ºFestival de Cinema de Vitória (Espírito Santo, Brasil) e de melhor guião no 8ºFilmworks Film Festival da Academia Internacional de Cinema.

Revisão: Glauce Monteiro
Montagem da Página: Alice Palmeira
Direção: Marcos Colón

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