Debate sobre clima precisa considerar a presença humana nos territórios

Professora Leila Ferreira no V Sialat
Professora Leila Ferreira em mesa redonda no V Sialat. Foto: Manuela Anré/Sialat
Professora Leila Ferreira no V Sialat

Professora Leila Ferreira em mesa redonda no V Sialat. Foto: Manuela André/Sialat

O segundo dia do Seminário Internacional América Latina e Caribe (Sialat) trouxe, nesta quinta-feira (25), a mesa de debate “Urgências climáticas, agentes presentes no debate pré-COP30 e perspectivas em conflito”. Neste encontro, um grupo de especialistas e pesquisadores apresentou os resultados de estudos sobre temas caros à biodiversidade e ao clima da região amazônica.

Entre as análises de políticas públicas, a professora Leila Ferreira, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), explicou que “as políticas climáticas, no caso brasileiro, em vários níveis, também está alimentando a importância da atuação dos vários atores nesse processo”.

Além de trazer debates relevantes sobre mercado de carbono, preservação dos recursos hídricos e atividades nocivas na Amazônia, os presentes definiram a criação de uma carta de posicionamento contra a exploração de petróleo na foz do rio Amazonas.

A emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) foi um dos pontos destacados por Ferreira, como responsabilidade de diferentes setores da sociedade. Segundo a especialista, “até 2019, 15 dos 5.570 municípios tinham leis específicas aprovadas sobre o clima”. A maior parte das legislações direcionadas ao tema surgiu após a Conferência das Partes (COP) em Copenhague, mas, no caso brasileiro, apenas algumas regiões avançaram nesse sentido.

Em relação às medidas relacionadas ao clima, a especialista mencionou o período a partir de 2019 como o declínio dessas políticas, o qual considerou como um retrocesso das leis que vinham avançando. Tendo em vista a chegada da COP30, sediada em Belém em 2025, ela avaliou uma oportunidade e apresenta, a partir de sua pesquisa, novas formas de pensar a relação com o meio, descrevendo o processo como “descarbonização da economia”.

Mesa redonda “Urgências climáticas, agentes presentes no debate pré-COP 30 e perspectivas em conflito”

Mesa redonda “Urgências climáticas, agentes presentes no debate pré-COP30 e perspectivas em conflito”, com os professores Marcela Vecchione, Leila Ferreira, Nils Neto e Felipe Milanez. Foto: Manuela André/Sialat

Rio Amazonas

“Em quilômetros cúbicos, a quantidade de água descarregada pelo rio Amazonas equivale à soma do valor dos sete maiores rios do mundo”. A explicação do oceanógrafo e professor Nils Neto, da Universidade Federal do Pará (UFPA), chamou atenção para a urgência de cuidar do recurso que faz a manutenção do entorno e das próprias pessoas que vivem na região.

Durante sua fala, Neto reafirmou a importância da presença humana na Amazônia, que seria ignorada em vários eventos de sua área. “Na Amazônia, tem 28 milhões de pessoas vivendo. A Amazônia também é gente”, pontuou.

O professor ainda trouxe para o debate a relevância dos manguezais, considerando a quantidade expressiva de sedimentos e nutrientes que o rio Amazonas despeja no mar todos os dias. “A cada segundo, o Amazonas joga mais ou menos 12 toneladas de lama, nutrientes e sedimentos no mar”, explicou. Segundo ele, a preservação do ecossistema de maneira geral está intimamente ligada à preservação das águas que cercam o território.

Previsões

O oceanógrafo deixou um alerta a respeito do futuro dos rios e apresentou dois cenários possíveis. “Se diminui a saída de água, ocorre a salinização e problemas na agricultura”, apontou. Assim, ficariam evidentes os impactos da seca na região, prejudicando, inclusive, as produções agrícolas da população local. O segundo cenário concerne ao aquecimento, citando, entre os efeitos mais comuns, o degelo nas regiões polares e o aumento da sensação térmica.

Professora Marcela Vecchione. Foto: Manuela André/Sialat

Professora Marcela Vecchione. Foto: Manuela André/Sialat

Tecnicidade

Em menção ao meio científico, a pesquisadora Marcela Vecchione destacou a importância de aproximar a sociedade como um todo das discussões sobre desenvolvimento e Amazônia. “Busca-se usar da tecnicidade para afastar sujeitos dessas discussões”, defendeu.

Vecchione também apresentou a nova escalada do carbono como a mais nova moeda de troca do mundo. Dessa maneira, diversos países estariam se movimentando para criar mecanismos para a reserva de carbono. No entanto, ela lembrou que boa parte dos interessados já não possui áreas verdes preservadas em grande proporção, que são as principais associadas ao sequestro de carbono.

Posicionamento

No fim das discussões, após uma provocação da professora Edna Castro, presidente da Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS), foi determinada a criação de uma carta contrária à exploração de petróleo na foz do rio Amazonas.

O documento congrega o desejo do Sialat em manter a biodiversidade e a vida das populações locais livre de interferências e prejuízos externos, devido aos custos da modernidade. Entre outros desdobramentos do evento, está planejada a realização de fóruns com temáticas específicas, a exemplo das questões raciais na Amazônia.

Texto: Maycon Marte
Edição:
 Alice Palmeira
Revisão: Isabella Galante
Direção: Marcos Colón

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